Folha Online Ilustrada  
Crítica
25/10/2001 - 11h25

Ator carrega o filme "O Pornógrafo" no rosto

JOSÉ GERALDO COUTO
colunista da Folha

O que é mais pornográfico: os filmes de sexo explícito ou a política oficial, a publicidade, a imprensa que vive de escândalos? De certo modo, essa é a questão colocada por "O Pornógrafo", de Bertrand Bonello.

Mas, por estar concentrado na figura do cineasta Jacques Laurent (Jean-Pierre Léaud), é apenas de maneira lateral, quase sub-reptícia, que o filme ilumina esses aspectos cruciais da sociedade contemporânea.

Em primeiro plano, o drama de Laurent, obrigado, por razões financeiras, a voltar à realização de filmes pornográficos, atividade da qual se afastou há 20 anos.

Ao mesmo tempo, o cineasta se separa da mulher e tenta se reaproximar do filho de 17 anos, Joseph, que se vê dividido, por sua vez, entre a namorada e a militância política num grupo que escolheu a greve de silêncio como forma de protesto.

Mas, à frente disso tudo, destacando-se como a imagem em relevo de uma holografia, há a figura de Jean-Pierre Léaud.

Ator notável que consegue estar ao mesmo tempo dentro e fora de seu personagem, Léaud carrega sobre os ombros curvados o peso das vidas que viveu para Truffaut e Godard. Se Laurent porta o estigma da pornografia, Léaud porta o da modernidade, tal como desenhada pelo cinema francês.

Essa circunstância, que enche de sombras o rosto do ator, multiplica também as camadas de significação de "O Pornógrafo".

Há uma pequena sequência, aparentemente descolada do resto do filme, que reforça essa impressão. É quando Laurent, sem mais nem menos, segue uma desconhecida na rua, entra furtivamente em seu apartamento e, descoberto, limita-se a dizer, candidamente: "Perdão, senhora. Não sei o que me deu na cabeça".

É impossível deixar de lembrar de Antoine Doinel, o personagem que Léaud interpretou em filmes memoráveis de Truffaut.

A solidão de Laurent, caminhando como um fantasma por um mundo em que tudo se tornou pornográfico (salvo, talvez, a pornografia), espelha a solidão de Léaud, espectro que passeia por um cenário em que tudo virou mercadoria, espetáculo, clichê.

Nos dois casos (o do personagem e o do ator), trata-se da afirmação trágica de uma individualidade em tempos de padronização do pensamento e do espírito.

Quem diz tudo isso é o rosto de Léaud.

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 Serviço

O Pornógrafo (Le Pornographe)
Direção: Bertrand Bonello
Produção: França/Canadá, 2001
Com: Jean-Pierre Léaud, Dominic Blanc
Onde: hoje, às 21h50; dia 29, às 19h50; e dia 30, às 21h40; todas as sessões são no Unibanco Arteplex


   
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