25/10/2001
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11h31
"Elegia de uma Viagem" mostra pós-guerra em tetralogia de déspotas
TIAGO MATA MACHADO crítico da Folha
Dentre os contemporâneos, o russo Aleksandr Sokurov parece ser o que mais conscientemente se filia ao espírito do cinema moderno do pós-guerra.
Seu mais recente projeto, uma tetralogia sobre os grandes déspotas do século 20, torna a filiação mais evidente, provando que o mundo sonhado pelo cinema sobreviveu mesmo às ideologias que dele se serviram. Desde os primeiros filmes, Sokurov já inscrevia sua obra nessa tradição, elegendo a perambulação ("Páginas Ocultas") e o luto (tema de "Mãe e Filho" revisitado em "Dolce", história do poeta-kamikaze Toshio Shimao) como temas.
Foi abolindo o ideal de verdade do cinema clássico -que propiciara a apropriação da "arte das massas" pelo totalitarismo- que o moderno, nascido das cinzas do Holocausto, fez-se o cinema do descentramento, da incerteza e do luto. Em reação à estetização da política promovida pelos fascistas, síntese do modelo teatral-propagandístico no qual culminara o cinema do pré-guerra, os filmes modernos promoveram a politização da estética. Sokurov se filia a essa proposição, tanto mais por efetivá-la através da pintura.
Em "Moloch", primeiro da tetralogia, em que restituía Hitler, o personagem, à ficção, o cineasta encontrava, atrás da pompa vazia do "teatro" hitlerista, o monumentalismo das paisagens de Caspar David Friedrich, o pintor romântico cultuado pelos nazistas.
Tal como os cineastas do pós-guerra, Sokurov fazia do retorno à pintura e à planura da imagem uma resposta à profundidade eternamente forjada do cinema clássico. E seu filme se revelava tanto mais brilhante por só sugerir, nesse fundo falso, a presença dos campos de concentração, o "segredo atrás da porta" eternamente prometido pelo modelo vazio do cinema do pré-guerra.
Em "Elegia de uma Viagem", esse retorno à pintura se faz, proustianamente, no tempo. Realizado no mesmo ano de "Taurus" (a grande ausência da Mostra, ao lado dos filmes recentes de Godard e Rohmer), em que Sokurov dá continuidade à tetralogia, enfocando os últimos dias de Lênin, "Elegia" é uma "viagem imóvel" de Sokurov, viagem em sonho em que o cineasta atravessa o tempo para se reencontrar com a pintura (uma paisagem de Van Gogh, a Babel de Bruegel) num estranho museu abandonado.
Antes, porém, há um encontro fortuito (outro procedimento caro ao cinema de autor) com um jovem despretensioso em uma lanchonete de beira de estrada. O personagem, de passagem, funciona como um intercessor que, atravessando o filme com sua "filosofia de botequim", prepara Sokurov para seguir viagem.
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Elegia de uma Viagem (Elegy of a Voyage) Direção: Aleksandr Sokurov Produção: Rússia/Holanda/França, 2001 Quando: hoje, às 13h30, no Cinesesc
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