29/10/2001
-
12h46
"O Caminho para Kandahar" tem trama fraca e imagens fortes
AMIR LABAKI da Folha de S.Paulo
Até George W. Bush quis ver "O Caminho para Kandahar", o docudrama de Mohsen Makhmalbaf. É merecidamente o filme da hora, ainda que esteja longe do melhor cinema iraniano e mesmo do ápice do próprio Makhmalbaf ("Salve o Cinema").
Situada no sul afegão, Candahar é a capital oficiosa do regime Taleban. Para lá segue Nafas (Niloufar Pazira), afegã exilada no Canadá, de retorno na tentativa de salvar a irmã que, numa carta, prometia suicidar-se, desesperada frente à opressão misógina do Taleban.
A busca de Nafas funciona apenas como pretexto dramático para Makhmalbaf apresentar uma sucessão de emblemas da barbárie. O Afeganistão surge como um país de homens sem perna (vítimas da explosão de minas) e mulheres sem rosto (cobertas da cabeça aos pés por burgas).
Mutilados correm para apanhar próteses que despencam do céu. Garotas são impedidas de ir à escola, mas seus irmãos não parecem estar em situação muito melhor. Cada sala de aula tornou-se uma central de rígido adestramento religioso-militar.
O drama de Nafas aos poucos sai de cena. Como nos filmes mais recentes de Makhmalbaf, o grande quadro se impõe sobre detalhes de caracterização psicológica. A exceção é a breve aparição de um fascinante médico negro americano.
Irregular, repetitivo e fragmentário, "O Caminho para Kandahar" é um filme de trama fraca e imagens fortes. Seus momentos menos convincentes o aproximam de um vídeo institucional da ONU. De certa forma, a história condenou-o a esse papel. Seria irônico, não fosse antes trágico.
O Caminho para Kandahar Direção: Mohsen Makhmalbaf Produção: Irã, 2001 Quando: hoje, às 20h45 e 24h, na Sala UOL
Leia notícias e programe-se para a 25ª Mostra Internacional de Cinema
|
|