29/10/2001
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14h35
Nightcrawlers destaca-se no Free Jazz com som de Nova Orleans
EDSON FRANCO da Folha de S.Paulo
Um visitou o passado de forma reverente. Outro pegou elementos ancestrais e os passou pela centrífuga para extrair algo novo. Foi assim que, respectivamente, o trompetista Marlon Jordan e o grupo New Orleans Nightcrawlers abriram a versão paulista do Free Jazz no palco New Directions, na sexta-feira.
Dono de um fraseado correto, Jordan exibiu as razões que levam a crítica norte-americana a afirmar que o moço é um ótimo trompetista, mas que ainda não desenvolveu características musicais que possam diferenciá-lo do cipoal de ótimos trompetistas de jazz nos EUA.
Da escolha do repertório -calcado em clássicos do bebop como "So What", de Miles Davis- à seleção de notas dos solos, nada de inusitado foi ouvido pela platéia.
A coisa começou a entortar logo após o anúncio da próxima atração. Ainda fora do palco, o tubista -isso mesmo, tocador de tuba- Matt "Tubop" Perine começou a tocar sozinho uma melodia ritmada embebida em funk.
Estava lançado o mote do show dos New Orleans Nightcrawlers. Com uma sonoridade fortemente embasada nas bandas que animam carnavais e funerais em Nova Orleans, o grupo mostrou que não tem concorrente na atual versão do Free Jazz quando o assunto é fazer a platéia dançar ao som do improviso.
São três percussionistas -que poderiam ser substituídos por um baterista-, dois trompetistas, dois saxofonistas e um trombonista, além do já citado tubista. Especializaram-se em criar climas dançantes para solos que vão do competente ao experimental.
Neste último quesito destacaram-se as intervenções de Brent Rose, saxofonista que estudou com Ellis Marsalis e que hoje luta para conseguir o título de mestre em composição e arranjo na universidade de Nova Orleans.
Isso não é tudo. Ao reler músicas criadas fora do espectro jazzístico, os rapazes revelaram ter criado um som próprio e no qual até o hino do Corinthians pode soar musicalmente interessante. Foi o que aconteceu com "Oye Como Va", composição de Tito Puente que se tornou célebre na guitarra do mexicano Carlos Santana.
Além dos méritos musicais, a apresentação dos Nightcrawlers foi marcada pelo bom humor, especialmente quando o percussionista "Chief" Smiley Ricks assumia o microfone para cantar.
Tudo somado, foi daqueles shows que relutam em sair da memória e que ajudam a esquecer que o bar montado dentro do New Directions pedia R$ 16 por uma porção de castanhas.
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