31/10/2001
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10h47
"Bicicletas de Pequim" se escora em auto-reflexão
TIAGO MATA MACHADO da Folha de S.Paulo
A referência ao clássico neo-realista "Ladrões de Bicicletas" (1948) é evidente: tal como o protagonista do filme de Vittorio de Sica, o jovem de "Bicicletas de Pequim" deve recuperar sua bicicleta roubada para ter o seu emprego de volta.
Mas, ao contrário de De Sica, o diretor e co-roteirista chinês Wang Xiaoshuai não se aprofunda no drama do trabalhador sem sua ferramenta de trabalho, preferindo alterná-lo com a história do ladrão, que também depende da bicicleta para se afirmar.
A exemplo da criança do clássico neo-realista, os jovens perdem sua inocência: o trabalhador deve perder a ingenuidade de interiorano recém-chegado à capital e o ladrão tirar suas devidas lições.
Ao promover um encontro entre os dois jovens, também é retomado tema caro ao neo-realismo. Mas, quando Cesare Zavattini, o grande teórico do movimento, disse que o neo-realismo era o "cinema do encontro", não estava se referindo apenas a uma temática, mas também a um método.
Em última instância, esse encontro era o dos cineastas italianos com seu povo, com a realidade das ruas que implicava a necessária superação do "filme de roteiro" dos estúdios pelo acaso e a concretude das filmagens, irmanando ficção e documentário.
O diretor não leva até o fim a filiação realista que reivindica. O cinema chinês começa a se tornar auto-reflexivo sem ter passado por uma verdadeira fase realista. Um problema tão político quanto a solução encontrada pelo roteiro: a mensagem de um comunismo literal em um filme que evidencia o progresso do capitalismo na China.
Bicicletas de Pequim Direção: Wang Xiaoshuai Produção: China/França, 2000 Quando: hoje, às 12h, no Cinearte, e amanhã, às 20h20, no Unibanco Arteplex
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