Folha Online Ilustrada  
Crítica
02/11/2001 - 09h32

Truffaut desfaz armadilha romântica em "Duas Inglesas e o Amor"

CÁSSIO STARLING CARLOS
Editor do Folhateen

"Se a pessoa não gosta de ouvir falar de amor no cinema, não deve assistir a "Duas Inglesas e o Amor'", alerta François Truffaut em uma entrevista.

O diretor francês, cuja filmografia é marcada por títulos de extração romântica ("Um Só Pecado", "A História de Adèle H." e "A Mulher do Lado", por exemplo), começava aqui sua interpretação do amor numa perspectiva inversa à dominante em seus filmes anteriores.

Não se trata, porém, de um filme açucarado tampouco melodramático. Truffaut pretendia retomar a situação que já abordara em "Jules e Jim - Uma Mulher para Dois" (baseado em um romance do mesmo autor, o francês Henri Pierre Roché), mas com o sentimento agora tingido pela dor.

Outra preocupação do diretor nesse momento era dar conta da dimensão física do amor. Apesar de se passar numa época -o fim do século 19- vista como puritana, o filme não a retrata de maneira pudica, ao contrário.

No longa-metragem, Jean-Pierre Léaud vive Claude, um rapaz parisiense na passagem da adolescência para a vida adulta que descobre os impulsos e os impasses do sentimento amoroso em relação às irmãs, Anne e Muriel, quando passa uma temporada no País de Gales.

A dimensão física é assumida como verbo nas falas de Claude -na defesa do amor carnal como forma de realização do sentimento- e convertida em imagem nas mãos de Truffaut. Porém, quando pensa em "físico", o diretor não se limita à representação do ato sexual. Na sua visão, o sentimento pode ser também devastador, daí a força com que mostra o sangue, o vômito, as lágrimas, o sofrimento, em suma.

Outro fator que se evidencia em "Duas Inglesas e o Amor" e ilumina a obra anterior e posterior de Truffaut é a conversão explícita ao romanesco.

Desde os letreiros iniciais, nos quais se vêem anotações do diretor sobre as páginas do romance de Roché, ela está presente.

E atravessa o filme por meio da fala constante de um narrador e a ênfase da literalidade nos diálogos. Esse esforço não funciona para Truffaut como exibicionismo literário, o que poderia acarretar um entediante exercício de admiração para o espectador.

Trata-se de buscar na literatura não apenas uma fonte, mas também uma referência na expressão do sentimento amoroso. Mais que isso, talvez, reencontrar na literatura a origem da mitologia criada em torno do amor, seu reforço e, por que não, a invenção da paixão como uma experiência devastadora.

Em vez de uma elegia ao romantismo, como pode parecer à primeira vista, "Duas Inglesas e o Amor" funciona como um manual anti-romantismo, quando ao fim Claude assume que a juventude tornou-se obsoleta.

Seu lado temível reflete a mesma ambiguidade de uma frase do romance de Roché: "Amor, amor, os cães estão soltos e galopam no meu coração...".

 Serviço

Duas Inglesas e o Amor (Les Deux Anglaises et le Continent)
Direção: François Truffaut
Com: Jean-Pierre Léaud, Philippe Léotard
Produção: França, 1971
Quando: a partir de hoje no Top Cine



   
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