Folha Online Ilustrada  
Crítica
19/11/2001 - 10h01

Simone procura expurgar imagem brega com novo CD

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo


Simone, 51, vive um ritual já conhecido, de intérpretes que fizeram carreiras inteiras sob o apoio do popularesco e, na maturidade, sentem necessidade de passar por algum processo de sofisticação.

Isso foi ensaiado por ela em "Fica Comigo Esta Noite" (2000), que reunia serestas, repertório clássico da música popular brasileira e momentos de "nova MPB" (de Zeca Baleiro e Lenine).

Agora, em "Seda Pura", esse mesmo esforço se volta para o pop-rock nacional dos anos 80 adiante, com faixas inéditas e/ou regravadas de Cazuza, Frejat, Carlinhos Brown, Samuel Rosa e até uma descoberta, o maranhense Zé de Riba.

A impressão de necessidade de expurgar a imagem brega nem vem tanto do repertório que, desde o início, em 73, apoiado no samba, em Hermínio Bello de Carvalho e em João de Aquino, visitou quase tudo da MPB contemporânea.

Mas é que, dos anos 80 em diante, Simone se vestiu de cantora de lençóis, de repertório romântico puxado para o kitsch, quase um Roberto Carlos mulher. Aí, não importava o que cantasse, parecia sempre a mesma coisa -e estragos assim ela causou até no rock nacional, gravando "O Tempo Não Pára" (de Cazuza), em 88, ou uma versão odiosa de "Será" (da Legião Urbana), em 91.

Aí, tudo era enquadrado num formato romântico-açucarado interpretado com monotonia por sua voz, ardente como as das cantoras de sua Bahia natal. Para isso concorria, também, o marketing mais de imagem que musical, de insistentes aparições nos programas de lavagem cerebral de Xuxa, um indesculpável disco de canções de Natal (lançado em 95) e outro só em espanhol Mercosul (em 98).

Se há algo diferente na Simone de "Seda Pura", então, é menos a tal investida pop-rock que a aparente desistência do comercialismo desabalado e açucarado. E é, principalmente, sua inteligência em domar os excessos exibicionistas na voz. Quase independentemente do que esteja cantando em "Seda Pura", Simone faz um disco discreto e elegante, que honra o que de melhor ela conseguiu fazer em 28 anos de carreira.

Assim, pode até ser justificável a presença deslocada de "Caso Encerrado" (Paulinho da Viola-Toquinho) -a releitura é mediana, mas o samba é, afinal, sua origem.

A brega-cult "Muito Estranho", de Dalto e Cláudio Rabello, veio para substituir "Preciso Chamar Sua Atenção", gravada, mas vetada pelo co-autor Roberto Carlos, outrora seu cúmplice nos temas de camas macias. Parece deslocada também (além de arrastada), mas não se se lembrar que era de Dalto "Morena", a primeira faixa de seu primeiro álbum individual.

Outra característica benigna que Simone ressuscita em "Seda Pura" é a de ser desbravadora. As duas faixas de Zé de Riba (em especial a contundente "www.sem", um original "coco de protesto") são as que melhor justificam a existência do disco.

O mesmo efeito se obtém de "Cofre de Seda" -talvez na voz de Simone devesse constranger um tanto seus autores roqueiros Samuel Rosa e Rodrigo Leão, mas, ainda romântica, é talvez a mais bem-sucedida canção do CD. E é bem bonita.

Assim é também "Garoa", de Carlinhos Brown (já "Hawaii e You", lançada por ele em 98, soa mais tola do que antes na voz de Simone). As de Frejat, "Antes de Acordar" (com Dulce Quental) e "Seda Pura" (mais uma do inesgotável cofrinho de inéditas e "inéditas" de Cazuza), também vão bem, mas nada tanto assim.

No mais, "Falando Sério" (Maurício Duboc-Carlos Colla) tenta driblar a rasteira da proibição de Roberto Carlos (ele celebrizou a canção, mas não detém direitos autorais sobre ela), mas vem delicada, cansativa e deslocada.

Simone, enfim, vem procurando um novo caminho, de alguma inquietude. O resultado é positivo, embora as marés de mercado devam manter viva a ameaça de que ela venha a gravar novos discos de roupão molhado, de Natal ou de ilariê. Aí, dê-lhe ter que desdizer tudo que está escrito acima.

 Serviço

Seda Pura
Artista: Simone
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 25, em média


   
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