Folha Online Ilustrada  
Crítica
12/02/2002 - 10h01

Samira Makhmalbaf ultrapassa simplicidade com humanismo

CÁSSIO STARLING CARLOS
da Folha de S.Paulo


A jovem Samira Makhmalbaf deixou meio mundo estupefato há quatros anos com "A Maçã", singelo filme libertário feito pela cineasta quando tinha apenas 17 anos. Simpático, "A Maçã" era ainda uma promessa, com sua visão quase amadora de um "fait divers". Em "O Quadro-Negro", Samira deixou de ser promessa, pois aos 21 anos já conta com essa obra-prima em seu currículo.

A tradição iraniana da simplicidade continua em pleno vigor. Samira retrata um grupo de refugiados curdos que transitam por paisagens inóspitas carregando seu objeto de trabalho, um quadro-negro, nas costas. Trata-se de simples professores, mas a imagem assume proporções míticas.

Parecem versões contemporâneas de Prometeu, acorrentados e condenados a um eterno castigo. A saber, querer a qualquer custo ensinar a ler e escrever. Em meio a uma natureza dura e a enfrentamentos militares, essa vocação assume ares de aberração.

À medida que a realidade resiste ao trabalho dos professores, o quadro vai ganhando outras funções além da original. E os mestres são obrigados a intercambiar incessantemente de papel, transformando-se em alunos de um saber maior que na maioria das vezes os ultrapassa.

Com seu olhar humanista, Samira evita o julgamento. Seu recorte da vida dialoga com questões culturais -a mais evidente é o valor da palavra escrita-, mas ela não adere ao ponto de vista de nenhum de seus personagens.

Entre tantos diálogos belíssimos, pelo menos um fica na memória. O professor que acompanha um bando de garotos muambeiros justifica a necessidade do aprendizado argumentando que "ler é uma forma de aprender histórias". E o garoto resiste contra-argumentando que "histórias ele as têm aos montes".

Porém, diante do filme, as interpretações se tornam supérfluas. Pois sua força reside mesmo é no poder de revelação, que renova a tradição neo-realista que fez dos iranianos uma das maiores reservas de beleza da cultura global.

 Serviço

O Quadro-Negro Takhté Siah
Direção: Samira Makhmalbaf
Produção: Irã, 2000
Com: Said Mohamadi, Behnaz Jafari


   
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