Livraria da Folha

 
10/06/2010 - 19h46

Livro clássico da etiqueta social esgota; brasileiro é mal-educado?

SÉRGIO RIPARDO
da Livraria da Folha

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Brasileiro já foi comparado a Homer Simpson por William Bonner, em 2006
Brasileiro já foi comparado a Homer Simpson pelo apresentador William Bonner, em 2006
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Shrek, um ogro simpático e divertido
Shrek, um ogro simpático e divertido

O brasileiro tem uma fama ruim de ser mal-educado. Fala alto ou com a boca cheia. Palita os dentes na mesa de restaurante. Forja intimidade num aperto de mão ou tapinha nas costas. É um dos maiores consumidores mundiais de fofocas, piadas, apelidos e trocadilhos infames, teorias da conspiração, humor negro. Despudorado e maldoso, vê sexo em tudo. Folgado, invade e vandaliza espaços, joga lixo ou urina na rua e, no maior dos paradoxos, ainda cobra bravinho seus direitos, mesmo quando está errado, furando fila ou dando carteirada.

Soa como tremenda discriminação esse nosso jeitinho do "brasileiro Shrek ou Homer Simpson", que desconhece os bons modos. Denunciar esse jeito ogro vira a maneira mais fácil de se autoafirmar como parte de uma elite, no estilo "eu sou fina, são os brasileiros pobres que não sabem se comportar".

No começo da década de 1990, a pecha do "brasileiro tosco, grosseiro e troglodita" virou arma do discurso político. O então presidente Collor humilhava sua mulher Rosane em público. Os dois estavam metidos em denúncias de corrupção e outras estripulias. Ele passou a circular sem a aliança no dedo, estimulando o esporte nº 2 do país (a fofoca, depois do futebol) na mídia.

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Nos anos 90, livro de Danuza detonou debate sobre bons modos na vida social
Nos anos 90, livro detonou debate sobre bons modos na vida social

Lá em 1992, Danuza Leão captou o espírito de "vale tudo" do Brasil sem etiqueta e lançou "Na Sala com Danuza", que logo virou um best-seller. Na estreia da novela "Passione" (Globo, 21h), o livro de Danuza chegou a ser citado por uma personagem, um sinal de como o debate sobre etiqueta ainda está vivo no falatório público.

Em meio ao mar de lama e às sucessivas capas das revistas semanais com revelações bombásticas sobre crimes no Planalto, dava realmente vergonha fazer parte de uma nação com aquele enredo de desfaçatez política. Tudo isso resultou em movimentos como os caras-pintadas, protestos de jovens idealistas ou teleguiados pela minissérie "Anos Rebeldes" (Globo, 1992), uma das pressões a favor do impeachment de Collor.

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Claudia Matarazzo faz releitura de clássico de guia do jornalista Marcelino de Carvalho
Guia revisto por Claudia Matarazzo esgota após ter preço promocional

Bem antes do livro de Danuza, a elite brasileira já cultuava o chamado "savoir vivre" (o saber viver). Um dos precursores da crônica social, o jornalista Marcelino de Carvalho, que morreu em 1978, aos 78 anos, em São Paulo, pregava todos os rituais que uma pessoa fina e elegante deveria seguir. A jornalista Claudia Matarazzo, também um nome de referência nesse gênero, chegou a atualizar os ensinamentos de Carvalho no livro "Marcelino por Claudia".

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Há 20 dias, esse guia foi colocado à venda na Livraria da Folha a um preço promocional de R$ 9,90. Foi um sucesso tão grande que, nesta quinta-feira (10), o livro esgotou. Realmente era uma pechincha. O brasileiro é realmente mal-educado? Talvez, mas parece se esforçar em tentar mudar essa imagem.

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