Livraria da Folha

 
26/08/2010 - 21h26

"Deixei o Irã, mas o Irã não me deixou", diz Azar Nafisi; leia entrevista exclusiva

PAULA DUME
colaboração para a Livraria da Folha

S. J. Staniski /Divulgação
"Talvez algo aconteça e eu volte a viver no Irã. Eu transporto meu mundo através dos meus livros", disse a escritora Azar Nafisi
"Talvez algo aconteça e eu volte a viver no Irã. Eu transporto meu mundo através dos meus livros", disse a escritora Azar Nafisi

Azar Nafisi ficou mundialmente conhecida com o livro "Lendo Lolita em Teerã", publicado em 2003. Nele, a escritora iraniana retrata a intimidade de sete mulheres de seu país que se encontram secretamente nas manhãs de quinta-feira para explorar a literatura ocidental proibida na terra dos aiatolás.

Nafisi e essas jovens se reuniam para ler Jane Austen (1775-1817), F. Scott Fitzgerald (1896-1940), Henry James (1843-1916), Vladimir Nabokov (1899-1977), entre outros autores com obras censuradas em solo iraniano.

Por meio dessas histórias, a autora revela o silêncio diante da tirania e a celebração do poder de libertação da literatura.

Em sua rápida passagem pela 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, Nafisi conversou com a Livraria da Folha. A iraniana revelou que Lolita é uma das figuras infantis de que mais gosta. "É um personagem muito especial para mim, porque é muito diferente. Não é como qualquer outra", explicou.

De 2004 a 2008, Nafisi se concentrou na composição de "O que Eu Não Contei", sua obra mais recente, lançada neste ano pela Record. "É um livro muito difícil e muito doloroso."

O volume narra a história de três gerações de sua família. Tanto que a iraniana consultou seus parentes antes de começar a escrever. "A única coisa que meu irmão me disse foi 'Não me mencione muito. Eu não quero estar no livro'. Eu não toquei no nome dele", contou.

Nafisi nasceu no Teerã e permaneceu no Irã até os 13 anos, quando foi enviada à Inglaterra para estudar. Doutora em literatura inglesa pela Universidade de Oklahoma, nos Estados Unidos, retornou ao país em 1979. Lecionou na Universidade de Teerã até 1981, quando foi expulsa do país por se recusar a usar o véu. Hoje, a escritora vive em Washington.

Questionada se algum dia pretende voltar ao Irã, disse que sua vida tem sido cheia de surpresas. "Talvez algo aconteça e eu volte a viver no Irã. Eu transporto meu mundo através dos meus livros". Nafisi contou que possui um "mundo portátil", que a leva para qualquer lugar.

"Eu espero estar apta a visitar o Irã um dia e poder sentir um Irã livre. Eu menciono no meu livro que eu deixei o Irã, mas o Irã não me deixou", afirmou.

 
Voltar ao topo da página