Livraria da Folha

 
31/10/2010 - 17h30

Chefe de equipe da ONU revela pressão dos EUA para invadir o Iraque

ARIADNE ARAÚJO
colaboração para a Livraria da Folha

A invasão do Iraque em março de 2003 teria sido premeditada? Hans Blix, o homem que estava no olho do furacão desse imbróglio internacional, diz quem sim. Na época, diretor-executivo da Comissão de Inspeção, Verificação e Monitoramento das Nações Unidas, ele acredita que os Estados Unidos buscavam apenas um bom pretexto para a opinião pública para entrar no país e acabar de vez com o regime de Saddam Hussein. O plano era ocupar Bagdá, capturar o ditador e mostrar ao mundo o que eles chamavam "a hora da verdade".

No livro "Desarmando o Iraque - inspeção ou invasão" (A Girafa), Hans Blix conta que a tal "hora da verdade" se assemelha à história do médico que opera um paciente para extirpar um grande tumor maligno e não encontra nada. Ou seja, encabeçada pelos Estados Unidos e Reino Unido e outras nações, a Força de Coalizão entrou no Iraque, sob pretexto de encontrar estoques de armas de destruição em massa, mas ficou de mãos vazias. As tais armas proibidas, tão faladas no mundo inteiro, simplesmente desapareceram.

Divulgação
Autor diz que objetivo dos EUA era capturar Saddam Hussein
Autor diz que objetivo dos EUA era capturar Saddam Hussein

Na opinião de quem supervisionou todas as inspeções de armas no Iraque nos meses que antecederam à guerra, a pedra já havia sido cantada pelos inspetores da ONU - as armas químicas e biológicas teriam sido destruídas em 1991 -, mas ninguém quis realmente dar ouvido a isso. A pouca atenção que o governo Bush demonstrou pela inspeção internacional "privou-os de uma fonte valiosa de informação", diz Blix. O equívoco que meteu por terra o motivo anunciado da invasão não anulou, segundo ele, o lado bem-sucedido da operação.

Para Blix, deve-se levar em conta o impacto do 11 de setembro na avaliação norte-americana e inglesa. "Os ataques mudaram a visão do governo Bush", diz. A conexão era teórica, mas tudo incriminava o Iraque: o histórico de Saddam no uso de armas químicas e mísseis, sua ambição nuclear e o empecilho que o regime colocou para impedir o trabalho dos inspetores internacionais. Assim a Coalizão não encontrou armas, mas encontrou Saddam. Nas palavras do Secretário de Estado de Bush, Colin Powell, "nós o pusemos dentro da caixa".

A guerra de opiniões e de nervos antes da invasão colocou Hans Blix no meio do tiroteio. O jornal The Times, por exemplo, publicou artigo com o título "Blix deveria apontar a 'arma fumegante' para a própria cabeça" - a expressão significa "prova incontestável". Mas, foi Bush que, à sua maneira, resolveu a discussão. Em entrevista em dezembro de 2003, ele afirmou que não fazia diferença se Saddam realmente possuía armas de destruição em massa ou se tinha intenção de adquiri-las. "Em qualquer caso, o mundo ficaria melhor sem ele".

*

"Desarmando o Iraque - inspeção ou invasão"
Autor: Ian Watt
Editora: A Girafa
Páginas: 408
Quanto: R$ 9,90 (preço promocional, por tempo limitado)
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

 
Voltar ao topo da página