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Quarta-feira, 6 de setembro de 2000

Erro não-forçado, coração triste

Régis Andaku
     
Diego Medina


Por que tenistas talentosos, vencedores, campeões, se vêem derrotados implacavelmente algumas vezes por jogadores de nível técnico mais fraco?

Como um Gustavo Kuerten perde para um Wayne Arthurs na primeira rodada de um Grand Slam? Como um Pete Sampras cai diante de um Ramón Delgado também em um Grand Slam? O que faz acontece a um Patrick Rafter diante de um Galo Blanco?

O tênis é um caixinha de supresa? Um tenista campeão acorda de tal maneira que, naquele dia, não consegue ganhar de ninguém? O saque não entra? Os erros não-forçados são fundamentais?

Esqueça!

Como em outros esportes (e por que o tênis haveria de ser diferente?), no tênis o coração tem, sim, um peso muito grande na carreira dos maiores atletas, seja na grama, no saibro, no cimento ou no carpete.

O exemplo mais claro dessa oscilação hoje não é, como muitos gostam de citar, Gustavo Kuerten, mas Andre Agassi.

Quando conquistou seu primeiro título (no Brasil, diga-se de passagem), estava com a mãe, de quem o ídolo do tênis já se revelou fã. "Garoto-família", era seguido também por sua irmã quando começou a despontar no ranking mundial.

Sua carreira correu bem (e como!) até que o casamento com a atriz Brooke Shields começou a fazer água. O garoto mais celebrado de Las Vegas viu-se subitamente fora até da lista dos 100 melhores tenistas do planeta.

Como um tenista que não consegue ver a bola pingar duas vezes na quadra adversária, Agassi não conseguiu também manter seu casamento, tido como um dos mais simpáticos e positivos entre os norte-americanos.

Triste, chegava a convidar jornalistas que nunca havia visto para que o acompanhasse em jatinhos entre um torneio e outro. O rendimento nas quadras, óbvio, era pífio.

Mas, então, com um romance, veio novamente o melhor tênis. Não "um", mas "o" romance. Com Steffi Graf, rainha das quadras também de tênis.

Agassi voltou a jogar bem. Aprendeu com Graf algumas palavras em alemão e, sugestão dela, passou a jogar mais beijos para o público sempre que vencia (para os quatro lados da quadra, diga-se de passagem).

Parecia imbatível. Jogava sorrindo. Entre um saque e outro, um olhar para a namorada. Entre um título e outro, jantares e show de mãos dadas com a namorada. A namorada e o melhor tenista de 1999.

Em 2000, parecia que nada atrapalhava o coração de Agassi. Começou vencendo o primeiro Grand Slam da temporada, na Austrália. E continuava sorrindo.

Mas foi isso. Nenhum mais sucesso de janeiro a agosto.

Até que, em Washington, chegou à final. Na festa americana, com bandeiras e tempero local, acabou derrotado por Alex Corretja. Sentiu-se humilhado. Chorou. Pediu desculpas ao público pelo seu desempenho, classificado por ele próprio como medíocre.

Relatos de quem está acompanhando o tenista dão conta de que ele está triste. Para alguns, perdeu o tesão de jogar. Para outros, não está mais tão apaixonado. Para outros ainda, sofre com um câncer (não confirmado) de sua mãe.

A certeza é que, além de um saque fora e erros não-forçados, um coração triste não faz a bola passar da rede.



Notas

DO LADO DE LÁ

A Argentina vai receber um ATP Tour na próxima temporada. O torneio poderia ter vindo para o Brasil. São Paulo, Rio de Janeiro ou Florianópolis poderia ter recebido, mas é Buenos Aires que vai receber as estrelas do circuito profissional. Evento International Series, distribui US$ 600 mil e será disputado no Buenos Aires Lawn Tennis Club.

DO LADO DE CÁ
Engajado na tentativa de levar o tênis ao maior número de pessoas, o Banco do Brasil inaugurou programa com 200 crianças em São Paulo.

Coordenado pela ex-tenista Andréa Vieira, é um programa para ser levado a sério se o banco não fizer dele apenas uma jogada de marketing.



E-mail: reandaku@uol.com.br



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