Diego
Medina
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O sul-africano Frans Botha é um boxeador
que vem ganhando respeito no meio pugilístico.
Foi assim que defini o Búfalo Branco, que amanhã
enfrenta o campeão unificado dos pesados, o britânico
Lennox Lewis, ao ser questionado por uma colega sobre as qualidades
do desafiante.
Só então, ao lembrar que Botha, 31, já
foi campeão pela FIB (Federação Internacional
de Boxe), em dezembro de 1995, me dei conta da ironia. Afinal,
ganhando respeito é uma condição
mais apropriada para um pugilista ainda verde
e não para um ex-campeão com mais de 40 lutas.
É verdade que o sul-africano ganhou moral após
suas apresentações com o ex-campeão Mike
Tyson, quando ganhava por pontos até ser nocauteado
no quinto assalto, e com Shannon Briggs, com quem empatou
após um excepcional décimo assalto.
Mostrando fibra, Botha (107,5 kg) garantiu a chance de enfrentar
Lewis (o combate será transmitido no Brasil pela Directv,
em pay-per-view), embora seja, com razão, o azarão
na proporção de 15 para 1 nas bolsas de apostas.
O problema é que suas performances nos combates com
Tyson e Briggs foram no ano passado. Elas qualificaram Botha
como um desafiante para a luta com o inglês Lewis (113,5
kg).
Então a pergunta que fica é: o que Botha havia
feito para merecer disputar o cinturão em 1995, contra
Axel Schulz? Nada.
Foi tão escandalosa a ascensão do sul-africano
naquela oportunidade, que a situação é
apontada hoje como indício de irregularidade no caso
em que Bob Lee, presidente da FIB, é investigado por
suspeita de corrupção.
O comentarista Steve Farhood, ex-editor da publicação
especializada The Ring, que atua como
especialista em rankings para o governo dos EUA no caso, exibiu
gráficos mostrando a ascensão de Botha (e outros
lutadores) nos rankings, luta a luta. Também mostrou
aos jurados os cartéis (muitos dos quais negativos,
ou seja, com mais derrotas do que vitórias) dos adversários
de Botha durante o mesmo período.
A situação de Botha na ocasião, que não
é um caso isolado (é possível encontrar
situações semelhantes nos rankings de todas
as entidades), mostra quão desvalorizados estão
os cinturões mundiais e como
qualquer um, por meio do trabalho de bastidores, pode ter
acesso a eles.
E já que estamos no tópico dos chamados títulos
mundiais, uma questão que permanece
sem resposta: se o mundo é um só, como pode
haver diversos campeões do mundo
em uma mesma categoria de peso?
Ainda nessa linha, você gostaria que seu mundo fosse
governado pela FIB, ou pelo CMB (Conselho Mundial de Boxe),
ou pela OMB (Organização Mundial de Boxe), ou
pela AMB (Associação Mundial de Boxe), ou por
qualquer outra entidade do boxe?
Uma das vantagens: se você, por qualquer motivo, não
apreciasse o atual presidente (por não concordar com
seu modo de se vestir, por exemplo), bastaria se filiar a
uma outra entidade que tivesse como líder outro candidato
derrotado nas últimas eleições...
Não faria sentido? Para os cartolas do pugilismo, faz.
NOTAS
Brasil 1
O leve Edson do Nascimento, o Xuxa, enfrenta o colombiano
Rosember Palacios em sua estréia como contratado de Don King,
no próximo dia 22, em Miami (EUA). O colombiano tem 17 vitórias,
12 nocautes, 7 derrotas e 3 empates. Originalmente, Xuxa enfrentaria
Juan Polo-Perez, na programação cuja luta de fundo é uma defesa
de título de Félix Trinidad, mas a equipe do brasileiro teria
vetado o ex-campeão ‘‘por ele ser canhoto’’ e por Xuxa não
lutar desde março.
Brasil 2
A Associação Internacional de Boxe oficializou
a destituição do supermédio Reginaldo ‘‘Hollyfield’’ Andrade
de sua versão do título continental. O campeão, após luta
eliminatória pelo título vago, passou a ser o norte-americano
Fernando Zuniga.
E-mail: eohata@folhasp.com.br
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