Reuters
30/01/2003 - 10h31

Crise entre países faz tailandeses fugirem do Camboja

da Reuters, em Phnom Penh (Camboja)

Aviões militares retiraram centenas de tailandeses do Camboja hoje, e a fronteira entre os dois países foi fechada, após uma noite de protestos contra tailandeses, nos quais a embaixada e filiais de empresas tailandesas foram incendiadas.

Os inesperados incidentes provocaram uma tempestade diplomática. A Tailândia respondeu suspendendo a cooperação técnico-econômica, retirando seu embaixador de Phnom Penh e ameaçando expulsar do país milhares de imigrantes cambojanos clandestinos.

Na capital tailandesa, Bangcoc, bandeiras cambojanas foram queimadas durante uma manifestação em resposta aos tumultos no país vizinho.

O primeiro-ministro do Camboja, Hun Sen, disse que as relações bilaterais atingiram "um nível preocupante". E autoridades disseram que pelo menos 20 pessoas foram presas por causa dos incidentes.

A crise foi deflagrada por declarações atribuídas a uma famosa atriz tailandesa de que o templo de Angkor Wat, símbolo do Camboja representado na bandeira nacional, pertence, na verdade, à Tailândia. Ela nega ter dito isso.

Ao longo do dia, cinco aviões-cargueiros C-130 pousaram em Bangcoc trazendo 511 pessoas de Phnom Penh. Outras cem deveriam ser levadas num vôo noturno.

Pelo menos dois empresários tailandeses não conseguiram embarcar, segundo testemunhas. "Eles estão com muito medo, escondidos em seus escritórios. Não sabem como chegar no aeroporto", disse um empregado deles.

Durante toda a quarta-feira houve protestos contra a Tailândia no Camboja, refletindo uma antiga desconfiança entre os dois países.

Ao anoitecer, a multidão invadiu a embaixada e ateou fogo ao prédio. A Tailândia acusa as autoridades cambojanas de nada terem feito contra esse ataque.

Os tumultos prosseguiram durante a noite, quando carros foram incendiados e empresas tailandesas sofreram ataques -foi o caso da Cambodia Shinawatra, filial local da empresa de telecomunicações do primeiro-ministro tailandês Thaksin Shinawatra.

Para evitar novos tumultos, a polícia ergueu uma cerca de arame farpado e colocou um carro blindado em frente à embaixada.

Na zona sul da capital cambojana, uma fábrica tailandesa de plástico continuava em chamas hoje, sem a presença visível de policiais ou bombeiros.

O premiê Hun Sen atribuiu o tumulto a um pequeno grupo de extremistas. "Essa violência é lamentável e é uma tremenda perda para nossa nação e nosso povo", disse ele numa nota oficial em que pediu calma à população.

Mesmo assim, grupos de jovens em motocicletas continuaram percorrendo as ruas de Phnom Penh na manhã de hoje, tocando buzinas, agitando bandeiras e gritando palavras-de-ordem contra a Tailândia. No centro da cidade, cerca de 50 pessoas distribuíam panfletos.

No Royal Phom Penh Hotel, que pertence a tailandeses e também foi destruído, centenas de pessoas saqueavam os destroços.

"Isso acontece porque os tailandeses não respeitam os cambojanos", disse um homem com uma sacola cheia de remédios. "Eles dizem que somos cães. Se os tailandeses não conseguem dizer 'desculpe', haverá mais tumulto."

O engenheiro japonês Iwao Tsunashima, que vivia no hotel havia dois anos, contou que perdeu quase tudo o que tinha. "Escapei só com meu corpo e com meu laptop. Perdi todo o resto. Não tenho nem idéia de como isso aconteceu."

Um casal francês, em estado de choque, procurava sua bagagem no meio dos destroços. A polícia não parecia muito empenhada em conter o saque.

Houve protesto também em frente à embaixada cambojana em Phom Penh, reunindo cerca de 200 pessoas -e um número ainda superior de policiais.

O ministro da Defesa, Thamarak Isarangura, disse que proibiu a passagem de cambojanos por todos os postos de controle nos 800 quilômetros de fronteira.

"Se eles vierem vamos expulsá-los. A fronteira não está oficialmente fechada, mas só tailandeses e turistas estrangeiros serão bem-vindos."

Ele disse ainda que a polícia já começou a deter centenas de trabalhadores e mendigos cambojanos que vivem ilegalmente na Tailândia. "Não podemos mais ter piedade com essa gente. Eles são uma ameaça à nossa segurança nacional. Isso vai mostrar a eles que os cambojanos vão se dar mal se mexerem conosco", afirmou.

Camboja e Tailândia, que há séculos lutam por poder e espaço na região, ainda têm disputas territoriais e marítimas. Além disso, os cambojanos acusam os tailandeses de explorar seus recursos econômicos.

A última vez que a Tailândia retirou seus cidadãos de Phnom Penh foi em 1997, durante um golpe de Estado.


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