Treinamento
02/07/2009 - 19h26

Sob pressão, amianto prospera em Minaçu

ANNA CAROLINA CARDOSO
ESTELITA HASS CARAZZAI
Enviadas especiais a Minaçu (GO)

Dia e noite, em Minaçu (GO), quem mora perto da única mina de amianto da América Latina pode ouvir os caminhões trabalhando sem parar. A exploração do mineral, usado principalmente em telhas e caixas d'água, é a principal atividade econômica da cidade (veja quadro).

Lá, a mineradora Sama, subsidiária do grupo Eternit, funciona 24 horas por dia e opera em capacidade máxima. Na contramão da discussão sobre o banimento do mineral, classificado como cancerígeno pela OMS, a empresa deve bater recorde de produção neste ano.

Anna Carolina Cardoso/Folha Imagem
Entrada da usina de amianto em Minaçu
Entrada da usina de amianto em Minaçu

Responsável por 70% da arrecadação do município e maior doadora privada de campanhas políticas no Estado, segundo valores declarados ao TSE (veja infografia), a Sama coleciona simpatizantes na cidade. Seu produto é proibido em cerca de 50 países, como Argentina e Japão. Na Europa, todos os tipos de amianto estão proibidos desde 2005, mas a demanda transferiu-se para países em desenvolvimento, como Índia, e continua estável.

Potência local

Em Minaçu, a produção de 25 mil toneladas por mês --o suficiente para produzir cerca de 3 milhões de caixas d'água-- emprega, diretamente, 899 pessoas. É difícil encontrar, na cidade de 31 mil habitantes, alguma família em que alguém não tenha trabalhado na Sama.

Todos os dias, cerca de 35 carretas saem dali carregadas de amianto beneficiado, rumo principalmente ao Paraná, maior consumidor do mineral no país, e a portos --já que 59% da produção da mina, a terceira maior do mundo, é exportada.

Em 2008, a atividade gerou R$ 247 milhões de receita e R$ 71,5 milhões em impostos --dos quais cerca de R$ 30 milhões ficaram em Minaçu, segundo a prefeitura. No município, todos os nove vereadores, além do prefeito, apoiam a mineração.

Estelita Carazzai/Folha Imagem
Placa da mineradora de amianto Sama na entrada da cidade de Minaçu, em Goiás, ressalta a dependência entre o município e a mina
Placa da mineradora de amianto Sama na entrada da cidade de Minaçu ressalta a dependência entre o município e a mina

A mina tem um papel fundamental no desenvolvimento da cidade, criada em torno da extração do amianto. Minaçu e Sama, como é possível ler em um outdoor, "crescem juntas". Até 1986, a empresa foi a única geradora de luz para o município e financiou a construção da rede elétrica local.

Até a estrada que liga a cidade à BR-153, principal acesso a Brasília e Goiânia, foi feita pela Sama.

Goiás também é um grande beneficiário e defensor da exploração do amianto, que é o terceiro principal produto de exportação do Estado. Na bancada goiana no Congresso, dos 21 deputados federais, só um se manifestou contra a fibra. Todos os senadores do Estado defendem o uso controlado do minério, regulamentado por uma lei federal de 1995, que determina limites de exposição a ele.

Dizendo-se seguros de que o uso da fibra não oferece riscos à saúde dos trabalhadores, os políticos de Goiás e a indústria do amianto têm se dedicado a convencer a opinião pública de que seu banimento teria um grande impacto econômico negativo no país. Segundo um estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas), divulgado em janeiro deste ano, a cadeia produtiva do amianto gerou 60 mil empregos e acrescentou R$ 1,1 bilhão ao PIB brasileiro em 2007 _o equivalente a 0,4% do total.

Em abril, quase 4 mil moradores da cidade foram a Brasília participar de uma passeata a favor do mineral. No dia do protesto, foi decretado feriado em Minaçu.

Praticamente todo o comércio local defende a exploração do amianto. Dos 83 ônibus que saíram da cidade, pagos pela prefeitura e pela Sama, um deles foi ocupado apenas por funcionários da loja de roupas Goianinha, do comerciante Luiz Marques, 47. Para o grupo, Marques bancou as camisetas: "A Goianinha apoia o uso controlado do amianto".

Colaborou Marcelo Soares

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