Índice geral Comida
Comida
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

O Faminto - André Barcinski

Comida sem frescura

Chame o ladrão

Já que ladrões são inevitáveis, por que não incentivá-los a levar só o que restaurantes têm de pior?

A CIDADE está apavorada com os arrastões em restaurantes. Ninguém está a salvo: num momento você pode estar ali, prestes a saborear uma dentada num minúsculo ravióli de R$ 60 em um restaurante-boutique superfaturado e, segundos depois, se ver na mira de uma arma, assaltado pela segunda vez na mesma noite.

Mas sou um eterno otimista. Onde outros veem problemas, enxergo a salvação. Já que os ladrões são inevitáveis e não temem nem a proximidade de delegacias, por que não incentivá-los a levar só o que os restaurantes têm de pior? Itens valiosos para os meliantes e cuja ausência melhoraria consideravelmente a experiência de jantar fora?

TVs de plasma, por exemplo: podem levar todas. Sem piedade.

Violões, flautas, pandeiros e qualquer outro instrumento musical usado para atrapalhar refeições? Levem, por favor. Nisso, estou com o grande G.K. Chesterton: "Música no jantar é um insulto tanto ao cozinheiro quanto ao violinista". Só aceito música ao vivo em restaurantes no dia em que um concerto for interrompido para que a plateia peça uma pizza.

Não podemos esquecer os mágicos. Nada contra a classe dos ilusionistas, mas será que alguém realmente quer ver um valete de paus sumir entre mordidas num filé, como aconteceu comigo recentemente em um conhecido restaurante uruguaio da cidade? Cartolas, baralhos e coelhos... podem levar tudo.

Também não seria nada mau se alguém visitasse as padarias "chiques" da cidade e levasse as catracas da entrada e todas aquelas máquinas que cospem comandas eletrônicas. Seria um favor à civilidade. E já que estão lá, não esqueçam de levar os uniformes de mucamas de "E o Vento Levou", que as funcionárias são obrigadas a usar.

Antes que alguém me acuse de incentivar a criminalidade, quero dizer que meu objetivo é o oposto: incentivar o público a sair de casa e reocupar os restaurantes. Mas para comer, não para ouvir música ou ver um coelho saindo da cartola.

NA PRÓXIMA SEMANA, NO "COMIDA":
Alexandra Forbes

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.