São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2011 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
A GOURMET Tendências gastronômicas mundo afora ALEXANDRA FORBES Quem tem medo do curry mau?
"Cuidado com a Déli belly", avisou meu amigo Tony, referindo-se à dor de barriga e à diarreia que vitimam tantos turistas, quando soube que eu estava de partida na semana passada para a Índia. Mais alertas aterrorizantes juntaram-se ao dele -"Nem encoste na água da torneira!" ou "Você não vai escapar de adoecer com os curries!" -de modo que já pisei em Nova Déli tomada por um medo para mim inédito: o medo de comer. Ruim, isso. Afinal, gosto de conhecer o mundo justamente por seus restaurantes, feiras e barraquinhas de rua. Pequena, meu pai repetia: "Em Roma, coma como os romanos". Ou seja: se quer comer bem, prove a especialidade do lugar. Meu irmão, ainda meninote, teimava. Se íamos ao grande (e já extinto) restaurante Ca'd'Oro, de cozinha lombarda, ele nem hesitava: "Estrogonofe, por favor". Papai logo avisava ao garçom que esquecesse aquilo. Pedia algo como língua e cotechino do famoso bollito misto (carnes e embutidos cozidos) seguidos de codorna para mim, agnolotti triplo burro para o Gui. Sabores adultos demais para criancinhas, quiçá, mas valiosa lição que me serve até hoje. Em minhas andanças procuro sempre saber, ao chegar, o que se faz bem ali. "Qual é o prato que mais sai?", pergunto -e peço o mesmo. Dificilmente me dou mal. De lambuja, ainda aprendo sobre costumes e gostos locais. Mostra-me o que comes e te direi quem és. Pois Nova Déli mostrou-se para mim. Vi gente de cócoras tostando pães-panqueca em chapas e brasas de carvão. Passei por botecos que preparavam cozidos misteriosos. Indianos empurravam carrinhos com milho assado da brasa ou samosas. Mas oprimiam-me o ar pesado e quente, as nuvens de moscas, os cheiros mesclados de esgotos, os corpos sem banho e o lixo. E agulhavam-me as tenebrosas profecias que ouvira de tanta gente, como um alarme constante. Envergonhada, confesso: não tive coragem de provar comida de rua nenhuma. Rendi-me ao bufê qualquer nota do cinco estrelas... ALEXANDRA FORBES é jornalista gastronômica, "foodtrotter" e autora de "Jantares de Mesa e Cama" Texto Anterior: Hecho en México: Taquería no Itaim Bibi terá receitas da "cozinheira atrevida" Próximo Texto: Fogo alto - André Mitano: Precisa-se de cozinheiros Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |