São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2008

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esporte

Carga pesada

Conheça a F-Truck, uma corrida alucinada com caminhões a mais de 200 km/h

Fotos Divulgação
Vilões do trânsito, os caminhões da F-Truck são estrelas de Interlagos

JULIANA CALDERARI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nada de caminhão velho empatando o trânsito. Em vez de reclamar dos grandalhões e de seus inconvenientes, cerca de 70 mil paulistanos presentes no autódromo de Interlagos (segundo a organização) esperavam ansiosamente a largada da quinta etapa do Campeonato Brasileiro de Fórmula Truck no último domingo, 6/7.
Criada em 1995 pelo caminhoneiro santista Aurélio Batista Félix, a F-Truck utiliza os mesmos caminhões que podem ser vistos nas ruas e estradas, com alguns ajustes para adaptá-los às pistas de corrida (veja quadro na outra página).
"A idéia da competição é que o caminhoneiro veja nos autódromos o que ele tem na estrada. Fazemos modificações, mas tentamos manter o maior índice de originalidade possível", explica Adalbert Beck, engenheiro da Mercedes-Benz.
Alterações no motor e no peso, por exemplo, permitem que os caminhões de corrida alcancem a velocidade de 240 km/h, enquanto os veículos comuns vão a 125 km/h. Para agüentar o tranco no caso de um acidente, é colocado um "santo antonio" na cabine -uma espécie de grade que protege o piloto.

Segurança
A alta velocidade desses pesos-pesados gera uma inércia muito grande, citada como a maior dificuldade, segundo os pilotos. "É muito difícil parar um caminhão a 200 km/h", conta Geraldo Piquet.
Filho você sabe de quem, Geraldo estreou no automobilismo aos nove anos, pilotando um kart. Após passar alguns anos nos Estados Unidos, o piloto aderiu à F-Truck em 2003 e lidera o circuito de 2008.
Para garantir a segurança do Piquet, o segurança Nilson Rodrigues ficava de olho em qualquer um que tentasse se aproximar de seu caminhão no box. "Já vi gente se passar por fã e por jornalista para sabotar", revelou, enquanto se certificava se a reportagem do Folhateen não fazia parte da equipe do Dick Vigarista.
A muitos boxes de distância, bem mais relaxado, estava o novato Leandro Reis. Com apenas 23 anos, o goiano é o piloto mais jovem da categoria e cresceu dividido entre a escola e os treinos. Apesar de ainda não ter subido ao pódio, Leandro ocupa a 22ª posição, à frente de outros quatro competidores desta temporada.
Ali pertinho, Débora Rodrigues, a única mulher no circuito da F-Truck do mundo, distribuía autógrafos ao lado de seu caminhão, com detalhes em cor-de-rosa. Os fãs eram quase todos do sexo masculino. "Às vezes ouço uma gracinha (sobre mulheres no volante) de algum convidado, mas os outros pilotos logo cortam o assunto", conta.
Débora, que aprendeu a dirigir com o pai caminhoneiro, já foi motorista de ônibus e de caminhão de carga. Mesmo assim, se intimidou na hora de enfrentar as pistas de corrida.
"No início eu me preocupava mais em não atrapalhar os outros do que em ganhar. Sabia que, se algo desse errado, iam dizer que é porque sou mulher", afirma. Nascida no Paraná, a Penélope Charmosa, que também já foi militante sem-terra e frentista, hoje apresenta um programa destinado aos motoristas de caminhão.
Na categoria masculina, o campeão do assédio de fãs é Felipe Giaffone. Vencedor do circuito em 2007, Felipe arranca suspiros das moças que passeiam pelos boxes antes da corrida. "Às vezes é mais difícil conseguir atender todo mundo do que dirigir o caminhão", brinca a versão brasileira de Peter Perfeito.
Antes de correr na F-Truck, Felipe competiu na fórmula Indy durante seis anos. "A Indy é fisicamente mais dura. O carro não tem direção hidráulica e a força gravitacional é maior. Já o caminhão tem muita potência e pouco peso na traseira. Tem muita manha, muito detalhe, além do calor interno", diz.
Segundo no ranking de reclamação dos pilotos (depois da inércia), o calor chega facilmente a 50º C dentro da cabine. Para aliviar, os pára-choques possuem um sistema especial de ventilação, e as janelas não têm vidros. "Em lugares mais frescos como São Paulo, até que não é tão ruim, mas no Nordeste por exemplo, é impressionante", afirma.


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