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COMIDA
Gato por lebre?
No período em que as búfalas não dão leite, a produção de derivados cai; na mesma época, algumas empresas acrescentam leite de vaca à mussarela de búfala, sem declarar a mistura no rótulo
LUIZA FECAROTTA
DA REPORTAGEM LOCAL
As búfalas estão descansando. Neste período de entressafra, que vai da desmama dos filhotes até o nascimento da próxima cria -um ciclo que acontece normalmente entre novembro e janeiro-, os animais
não produzem leite. E é justamente no verão, época de
maior demanda pela mussarela
de búfala, um queijo leve e fresco, que a produção escasseia.
Para manter o mercado abastecido, no entanto, alguns produtos são adulterados e fabricados com uma porcentagem
de leite de vaca (mais abundante e barato), não indicada no rótulo. Foi por isso que a Associação Brasileira de Criadores de
Búfalo lançou, em 2000, o Selo
de Pureza 100% Búfalo, na época aprovado pelo Ministério da
Agricultura (leia ao lado).
"Quando um laticínio quer
participar do selo, ele paga uma
taxa e assina um contrato no
qual se compromete a trabalhar somente com leite de búfala", diz a coordenadora do selo
de pureza, Marcia Cecilia de Almeida Prado. A empresa também tem de passar por uma
avaliação técnica, e seus produtos, por análise. Somente depois é concedida a permissão
de uso do selo.
Quatro vezes ao ano são recolhidos produtos derivados de
leite de búfala no mercado e encaminhados para o Instituto de
Biociência da Unesp, em Botucatu (SP). Lá, as amostras passam por um teste de pureza que
detecta se há ou não presença
de leite de vaca.
"Levamos três anos padronizando a técnica, com base no
que é feito na Europa. Hoje, o
resultado é próximo a um código de barras, que mostra a mistura exata dos leites das diferentes espécies", diz Paulo Ramos, zootecnólogo responsável
pelo procedimento, mestre e
doutor em genética. Segundo
ele, um trabalho similar feito
no laboratório da universidade
apontou que, dentre as marcas
sem o selo de pureza, 20% apresentavam mistura.
"Na entressafra, a mistura é
muito maior", diz a coordenadora do selo. "No começo do
ano passado, cerca de 60% dos
produtos analisados que não
possuíam o selo apresentaram
misturas de até 80% de leite de
vaca." Ela não revela, porém,
quais são as marcas que apresentaram adulteração.
Leite bovino
Com o acréscimo de leite bovino, a mussarela fica menos
macia e levemente mais ressecada. "Para o bom conhecedor,
a mussarela de búfala tem um
aspecto mais fibroso, consequência de cadeias mais longas
de proteína. Uma bola se desfaz
em camadas, mais ou menos
como uma cebola. Quando feita
com leite bovino, se esfarela",
diz Claudio Varella Bruna, engenheiro agrônomo, sócio e gerente do laticínio La Vera.
O leite de vaca também torna
o produto final mais amarelado, mas, segundo os criadores,
algumas empresas utilizam
substâncias branqueadoras para camuflar a mistura. "São
produtos específicos para despigmentar o queijo", diz o agrônomo.
Apesar disso, há aqueles que
não se preocupam com a certificação. Gianni Auricchio, proprietário do laticínio La Bufalina, há dez anos no mercado,
não tem interesse em adquirir
o selo. "Nosso produto é artesanal e controlado. Fazemos purificação do leite a cada mês",
diz Auricchio.
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