São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2007

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comentário

Não se faz arte para provar nada

NOEMI JAFFE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um ensinamento de Antonio Candido é o de que não se buscam teses na interpretação de textos, pois elas sempre se encontram. O fundamental é descobrir as teses com a leitura. O mesmo se aplica à produção de objetos. Não se faz arte para provar nada. A arte prova quando consegue falar. "O Passado", de Alan Pauls, e o filme de Hector Babenco (o primeiro num grau muito maior) buscam provar uma tese: mulheres que amam demais são loucas.
Em nome dessa tese, numa escrita que beira o malabarismo, Pauls transforma personagens verossímeis em caricaturais: tudo para provar a tese. No filme, há mais motivação, embora nem sempre. Por que Sofía é tão cruel? Por que Rímini é tão plano e covarde? Pode-se argumentar que é a intenção.
Mas o tom do filme e do livro não sugerem a caricatura. Assim, os personagens soam deslocados. A sorte é que o filme não se esmera em destrezas de bom gosto, em demonstrações desmotivadas de competência. Em arte, fazer bem feito não é tudo, mas tudo deve ser motivado. Em arte são os meios que justificam os fins e é por isso que ela ainda é ética e política. Quando os fins justificam os meios, ela é bela e nada mais.


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