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comentário
Não se faz arte para provar nada
NOEMI JAFFE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um ensinamento
de Antonio Candido é o de que
não se buscam teses na interpretação de textos, pois
elas sempre se encontram.
O fundamental é descobrir
as teses com a leitura. O
mesmo se aplica à produção de objetos. Não se faz
arte para provar nada. A
arte prova quando consegue falar. "O Passado", de
Alan Pauls, e o filme de
Hector Babenco (o primeiro num grau muito
maior) buscam provar
uma tese: mulheres que
amam demais são loucas.
Em nome dessa tese,
numa escrita que beira o
malabarismo, Pauls transforma personagens verossímeis em caricaturais: tudo para provar a tese. No
filme, há mais motivação,
embora nem sempre. Por
que Sofía é tão cruel? Por
que Rímini é tão plano e
covarde? Pode-se argumentar que é a intenção.
Mas o tom do filme e do
livro não sugerem a caricatura. Assim, os personagens soam deslocados. A
sorte é que o filme não se
esmera em destrezas de
bom gosto, em demonstrações desmotivadas de
competência. Em arte, fazer bem feito não é tudo,
mas tudo deve ser motivado. Em arte são os meios
que justificam os fins e é
por isso que ela ainda é ética e política. Quando os
fins justificam os meios,
ela é bela e nada mais.
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