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Opostos políticos, Chávez e Uribe se igualam em estilo
Tanto esquerdista quanto direitista adotam tom populista e buscam concentrar poder
Venezuelano e colombiano vivem "lua-de-mel" ilustrada por plano de negociar com as Farc e busca de via legal para se perpetuar no poder
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Nos últimos anos, a fronteira
colombo-venezuelana tem sido
citada como a de maior potencial de conflito na América do
Sul. O cálculo envolvia a soma
dos problemas antigos, como a
demarcação e a ação de paramilitares de direita e guerrilheiros
de esquerda, às diferenças
ideológicas entre os presidentes Hugo Chávez e Álvaro Uribe, sobretudo quanto aos EUA.
Neste ano, alguns problemas
fronteiriços têm até piorado,
como o tráfico de drogas, o contrabando de gasolina e os seqüestros. Outros impasses persistem, como a disputa territorial marítima que quase levou
os dois países à guerra nos anos
80. Mas a grande -e surpreendente- novidade é que as relações entre os dois presidentes
nunca estiveram tão boas.
Uma evidência do novo momento é a viagem à Venezuela
do "chanceler das Farc", Rodrigo Granda, para se reunir com
Chávez, nomeado em agosto
por Uribe mediador de um
acordo para trocar reféns das
Farc por guerrilheiros presos.
Em dezembro de 2004, Gandra foi o pivô de uma crise diplomática ao ser seqüestrado
em Caracas e levado à Colômbia por agentes de Bogotá. No
meio de 2005, foi solto a pedido
da França para ajudar nas negociações. Hoje vive em Cuba.
Na época, Chávez retirou o
embaixador venezuelano de
Bogotá e exigiu um pedido de
desculpas. O governo Uribe
reagiu acusando Caracas de colaborar com as Farc. A crise só
foi resolvida dois meses depois
e envolveu o o trabalho de "facilitador" do presidente Lula.
A participação de Chávez nas
negociações tem sido o principal fator de aproximação. Para
Uribe, serve para mostrar que
seu governo está disposto a resolver um problema que se arrasta há anos. Para o venezuelano, é uma chance de testar
sua influência na região e melhorar a imagem externa, arranhada por episódios como o
fim da concessão da RCTV e a
reforma constitucional.
Mas os freqüentes encontros
nos últimos meses involuntariamente serviram para escancarar o que antes se falava apenas à boca pequena: a incrível
semelhança entre os dois.
"O que se evidenciou foi a impressionante semelhança de
estilo dos mandatários, apesar
da distância ideológica", escreveu a colunista política colombiana Maria Teresa Ronderos,
sobre um dos últimos encontros entre os dois, em agosto.
"Os dois são populistas a tal
ponto que até disputa houve
pelo recorde em transmissão
televisiva. "Estive outro dia em
um "Alô Presidente" por mais de
oito horas", disse Chávez, em
alusão a seu programa semanal.
Uribe respondeu: "Completei
dez horas num conselho comunitário" (que passa na TV todos
os sábados)", relata Ronderos.
Reeleição
Na última semana, as comparações chegaram à arena política colombiana depois que Uribe admitiu a possibilidade do
terceiro mandato consecutivo,
no momento em que Chávez
defende a reeleição indefinida.
É a primeira vez que um presidente de direita é acusado de
"chavismo". A pecha, até agora,
estava reservada apenas a esquerdistas como o boliviano
Evo Morales e, em escala menor, o próprio Lula.
Chávez e Uribe, aliás, foram
os que conseguiram introduzir
a reeleição imediata na legislação dos seus países em benefício próprio. Ambos já têm hoje
o maior tempo de governo na
América do Sul: o colombiano
está no poder desde 2002, enquanto seu colega ocupa o Miraflores desde 1999.
"Eles são destemperados, voluntariosos, grosseiros, intolerantes, religiosos, nacionalistas
e defensores dos direitos do povo local", escreve o economista
colombiano Salomón Kalmanovitz no jornal "El Espectador". "A popularidade os leva a
destruir ou mudar as instituições que condicionam o seu poder. Os dois são inimigos da divisão e rotação de poderes, que pretendem concentrar em si."
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