São Paulo, domingo, 04 de novembro de 2007

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Opostos políticos, Chávez e Uribe se igualam em estilo

Tanto esquerdista quanto direitista adotam tom populista e buscam concentrar poder

Venezuelano e colombiano vivem "lua-de-mel" ilustrada por plano de negociar com as Farc e busca de via legal para se perpetuar no poder

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Nos últimos anos, a fronteira colombo-venezuelana tem sido citada como a de maior potencial de conflito na América do Sul. O cálculo envolvia a soma dos problemas antigos, como a demarcação e a ação de paramilitares de direita e guerrilheiros de esquerda, às diferenças ideológicas entre os presidentes Hugo Chávez e Álvaro Uribe, sobretudo quanto aos EUA.
Neste ano, alguns problemas fronteiriços têm até piorado, como o tráfico de drogas, o contrabando de gasolina e os seqüestros. Outros impasses persistem, como a disputa territorial marítima que quase levou os dois países à guerra nos anos 80. Mas a grande -e surpreendente- novidade é que as relações entre os dois presidentes nunca estiveram tão boas.
Uma evidência do novo momento é a viagem à Venezuela do "chanceler das Farc", Rodrigo Granda, para se reunir com Chávez, nomeado em agosto por Uribe mediador de um acordo para trocar reféns das Farc por guerrilheiros presos.
Em dezembro de 2004, Gandra foi o pivô de uma crise diplomática ao ser seqüestrado em Caracas e levado à Colômbia por agentes de Bogotá. No meio de 2005, foi solto a pedido da França para ajudar nas negociações. Hoje vive em Cuba.
Na época, Chávez retirou o embaixador venezuelano de Bogotá e exigiu um pedido de desculpas. O governo Uribe reagiu acusando Caracas de colaborar com as Farc. A crise só foi resolvida dois meses depois e envolveu o o trabalho de "facilitador" do presidente Lula.
A participação de Chávez nas negociações tem sido o principal fator de aproximação. Para Uribe, serve para mostrar que seu governo está disposto a resolver um problema que se arrasta há anos. Para o venezuelano, é uma chance de testar sua influência na região e melhorar a imagem externa, arranhada por episódios como o fim da concessão da RCTV e a reforma constitucional.
Mas os freqüentes encontros nos últimos meses involuntariamente serviram para escancarar o que antes se falava apenas à boca pequena: a incrível semelhança entre os dois.
"O que se evidenciou foi a impressionante semelhança de estilo dos mandatários, apesar da distância ideológica", escreveu a colunista política colombiana Maria Teresa Ronderos, sobre um dos últimos encontros entre os dois, em agosto. "Os dois são populistas a tal ponto que até disputa houve pelo recorde em transmissão televisiva. "Estive outro dia em um "Alô Presidente" por mais de oito horas", disse Chávez, em alusão a seu programa semanal. Uribe respondeu: "Completei dez horas num conselho comunitário" (que passa na TV todos os sábados)", relata Ronderos.

Reeleição
Na última semana, as comparações chegaram à arena política colombiana depois que Uribe admitiu a possibilidade do terceiro mandato consecutivo, no momento em que Chávez defende a reeleição indefinida.
É a primeira vez que um presidente de direita é acusado de "chavismo". A pecha, até agora, estava reservada apenas a esquerdistas como o boliviano Evo Morales e, em escala menor, o próprio Lula.
Chávez e Uribe, aliás, foram os que conseguiram introduzir a reeleição imediata na legislação dos seus países em benefício próprio. Ambos já têm hoje o maior tempo de governo na América do Sul: o colombiano está no poder desde 2002, enquanto seu colega ocupa o Miraflores desde 1999.
"Eles são destemperados, voluntariosos, grosseiros, intolerantes, religiosos, nacionalistas e defensores dos direitos do povo local", escreve o economista colombiano Salomón Kalmanovitz no jornal "El Espectador". "A popularidade os leva a destruir ou mudar as instituições que condicionam o seu poder. Os dois são inimigos da divisão e rotação de poderes, que pretendem concentrar em si."


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