São Paulo, domingo, 12 de junho de 2011

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ANÁLISE MUDANÇA MINISTERIAL

Dilma se afasta de Lula e assume riscos

Forçada a demitir Palocci, superministro que lhe fora imposto por antecessor, presidente deixa governo com a sua cara

JOSIAS DE SOUZA
DE BRASÍLIA

A minirreforma ministerial promovida pela presidente Dilma Rousseff foi recebida por congressistas do governo e da oposição como uma espécie de segunda posse.
Cinco meses depois de receber a faixa presidencial, Dilma distanciou-se de Lula, moldou o Planalto à sua imagem e assumiu riscos.
Anteontem, dissolveu as últimas dúvidas quanto ao estilo que deseja impor. Valeu-se de duas reuniões.
Uma com o vice-presidente Michel Temer e com o presidente do Senado, José Sarney. Outra, com o presidente da Câmara, Marco Maia.
Disse a Temer e Sarney, os dois principais caciques do PMDB, que cogitava entregar a coordenação política do governo à petista Ideli Salvatti.
Em verdade, não se tratava de mera cogitação. Em decisão solitária, Dilma já havia escolhido Ideli. Opção temerária, na visão do PMDB.
A presença de Sarney em audiência que Temer imaginara que seria exclusiva não foi casual. Dilma fez a defesa de Ideli: "Ela veste a camisa".
Súbito, levou à mesa um argumento que soou como cobrança. Recordou que, no Senado, Ideli postara-se ao lado de Sarney na crise dos atos secretos. Lembrou que ela defendera também Renan Calheiros (PMDB-AL) na época em que o mandato dele esteve sob ameaça.
Ficou entendido que Dilma vê como virtude o estilo "trator" de Ideli, tido como defeito pelos aliados. Mais: acha que o PMDB é devedor de sua escolhida.
Com Marco Maia, o petista que comanda a Câmara, Dilma mostrou-se contrafeita com a divisão da bancada de deputados do PT.
Por 48 horas, o grupo de Maia (PT-RS) travara disputa com a ala de Cândido Vaccarezza (PT-SP) pela vaga do ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais).
Incomodada, Dilma mandara recado por intermédio de Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência). Pedira comedimento. O cargo era dela, não do PT.
Ficou claro que Dilma trocaria Luiz Sérgio por Ideli, até por conta da tentativa do PT de emparedá-la.
Mesmo contrafeitos, Temer e Sarney recomendaram aos correligionários que recebessem Ideli com espírito de "colaboração".
Marco Maia expediu uma nota. Enalteceu qualidades de Ideli, elogiou Luiz Sérgio e desejou "sucesso" a ambos.
A chegada de Ideli ao Planalto completou a remodelagem iniciada três dias antes, com a nomeação da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) para a Casa Civil.
Forçada a demitir Antonio Palocci para sustar uma crise que desgastava seu governo há 23 dias, Dilma deixou o governo com a sua cara.
Lipoaspirou os poderes da Casa Civil, agora circunscrita à coordenação gerencial do governo, e vitaminou a coordenação política, antes absorvida por Palocci.
Livrou-se de um superministro que lhe fora imposto por Lula e acomodou do seu lado duas mulheres leais e de temperamento mercurial.
Tudo isso sem consultar previamente o PMDB, de costas para as pretensões do PT e ignorando os outros 12 partidos que integram a base.
A operação envolve riscos. Privilegiou-se o Senado, onde Dilma tem cerca de 40 votos, em detrimento do Senado, que tem 340 governistas.
Tomados de surpresa, líderes de siglas periféricas se reúnem na próxima semana. Receiam que Ideli, como Dilma, os ignore.
A oposição prepara a colheita. Aécio Neves, presidenciável do PSDB, apregoa, em privado: "Tirando o PT, faremos alianças com todos os partidos em 2012".
José Agripino Maia (RN), presidente do DEM, reuniu-se com Renan Calheiros. Disse que, nas eleições municipais, seu partido deseja achegar-se ao PMDB.
A uma das principais lideranças do PT da Câmara, lamuriou-se: "A Dilma esqueceu que não chegou à Presidência só com o peso dela".


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