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ANÁLISE MUDANÇA MINISTERIAL
Dilma se afasta de Lula e assume riscos
Forçada a demitir Palocci, superministro que lhe fora imposto por antecessor, presidente deixa governo com a sua cara
JOSIAS DE SOUZA
DE BRASÍLIA
A minirreforma ministerial
promovida pela presidente
Dilma Rousseff foi recebida
por congressistas do governo
e da oposição como uma espécie de segunda posse.
Cinco meses depois de receber a faixa presidencial,
Dilma distanciou-se de Lula,
moldou o Planalto à sua imagem e assumiu riscos.
Anteontem, dissolveu as
últimas dúvidas quanto ao
estilo que deseja impor. Valeu-se de duas reuniões.
Uma com o vice-presidente Michel Temer e com o presidente do Senado, José Sarney. Outra, com o presidente
da Câmara, Marco Maia.
Disse a Temer e Sarney, os
dois principais caciques do
PMDB, que cogitava entregar
a coordenação política do governo à petista Ideli Salvatti.
Em verdade, não se tratava
de mera cogitação. Em decisão solitária, Dilma já havia
escolhido Ideli. Opção temerária, na visão do PMDB.
A presença de Sarney em
audiência que Temer imaginara que seria exclusiva não
foi casual. Dilma fez a defesa
de Ideli: "Ela veste a camisa".
Súbito, levou à mesa um
argumento que soou como
cobrança. Recordou que, no
Senado, Ideli postara-se ao
lado de Sarney na crise dos
atos secretos. Lembrou que
ela defendera também Renan Calheiros (PMDB-AL) na
época em que o mandato dele esteve sob ameaça.
Ficou entendido que Dilma vê como virtude o estilo
"trator" de Ideli, tido como
defeito pelos aliados. Mais:
acha que o PMDB é devedor
de sua escolhida.
Com Marco Maia, o petista
que comanda a Câmara, Dilma mostrou-se contrafeita
com a divisão da bancada de
deputados do PT.
Por 48 horas, o grupo de
Maia (PT-RS) travara disputa
com a ala de Cândido Vaccarezza (PT-SP) pela vaga do
ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais).
Incomodada, Dilma mandara recado por intermédio
de Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência).
Pedira comedimento. O cargo era dela, não do PT.
Ficou claro que Dilma trocaria Luiz Sérgio por Ideli,
até por conta da tentativa do
PT de emparedá-la.
Mesmo contrafeitos, Temer e Sarney recomendaram
aos correligionários que recebessem Ideli com espírito
de "colaboração".
Marco Maia expediu uma
nota. Enalteceu qualidades
de Ideli, elogiou Luiz Sérgio e
desejou "sucesso" a ambos.
A chegada de Ideli ao Planalto completou a remodelagem iniciada três dias antes,
com a nomeação da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR)
para a Casa Civil.
Forçada a demitir Antonio
Palocci para sustar uma crise
que desgastava seu governo
há 23 dias, Dilma deixou o
governo com a sua cara.
Lipoaspirou os poderes da
Casa Civil, agora circunscrita
à coordenação gerencial do
governo, e vitaminou a coordenação política, antes absorvida por Palocci.
Livrou-se de um superministro que lhe fora imposto
por Lula e acomodou do seu
lado duas mulheres leais e de
temperamento mercurial.
Tudo isso sem consultar
previamente o PMDB, de costas para as pretensões do PT
e ignorando os outros 12 partidos que integram a base.
A operação envolve riscos.
Privilegiou-se o Senado, onde Dilma tem cerca de 40 votos, em detrimento do Senado, que tem 340 governistas.
Tomados de surpresa, líderes de siglas periféricas se
reúnem na próxima semana.
Receiam que Ideli, como Dilma, os ignore.
A oposição prepara a colheita. Aécio Neves, presidenciável do PSDB, apregoa,
em privado: "Tirando o PT,
faremos alianças com todos
os partidos em 2012".
José Agripino Maia (RN),
presidente do DEM, reuniu-se com Renan Calheiros. Disse que, nas eleições municipais, seu partido deseja achegar-se ao PMDB.
A uma das principais lideranças do PT da Câmara, lamuriou-se: "A Dilma esqueceu que não chegou à Presidência só com o peso dela".
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