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Mossad descobriu Mengele no Brasil, mas não o deteve
Serviço secreto de Israel temia que ação provocasse nova crise diplomática
Em 1962, israelenses capturaram Eichmann em Buenos Aires, mas a Argentina protestou e expulsou o embaixador
Baz Ratner - 28.mar.06/Associated Press
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Rafi Eitan, que comandou a operação em que foi preso o nazista Eichmann, em 1960
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
O Mossad sabia desde 1962
que o criminoso nazista Josef
Mengele vivia escondido no
Brasil e chegou a preparar a
operação para prendê-lo.
O plano do serviço de espionagem israelense era repetir o que havia sido feito
dois anos antes na Argentina, quando seus agentes
capturaram Adolf Eichmann, um dos arquitetos do
extermínio alemão de 6 milhões de judeus na Segunda
Guerra Mundial.
A revelação é do ex-chefe
do Mossad Rafi Eitan, 84, o
comandante da operação secreta que levou Eichmann
em 1960 para Israel, onde o
nazista foi julgado e punido
com a forca.
"Fui ao Brasil com outro
agente em 1962 e confirmamos que Mengele vivia sob
identidade falsa nos arredores de São Paulo", contou Eitan à Folha. "Na volta, começamos a preparar a operação
para capturá-lo, mas o governo acabou desistindo."
MORTE
Mengele morreu afogado
em 1979 em Bertioga, litoral
de São Paulo, sem jamais responder pelas atrocidades
que cometeu como chefe do
serviço médico do campo de
concentração de Auschwitz
(Polônia), entre 1943 e 1945.
Sua ossada foi encontrada
em 1985 no cemitério de Embu das Artes, num das ações
policiais mais notórias do delegado Romeu Tuma, morto
nesta semana. Mais de 20
anos antes, entretanto, o médico alemão que ficou conhecido como o "Anjo da Morte"
pelas experiências sádicas
que realizava com prisioneiros já era alvo do Mossad.
Rafi Eitan conta que Mengele estava no topo da lista
de nazistas procurados pelo
Mossad no fim da década da
50, ao lado de Eichmann e de
Heinrich Müller, o chefe da
Gestapo (polícia secreta).
A lista fora preparada a pedido do então premiê de Israel, David Ben Gurion, que
queria dar ao mundo um
exemplo de justiça.
"Ele achava que o julgamento de um alto dirigente
nazista no país dos judeus seria a melhor forma de mostrar que a história não se repetiria", lembra Eitan. Eichmann permanece até hoje como o único réu executado pelo Estado de Israel.
A caça aos demais foragidos não parou depois da captura de Eichmann na Argentina. Segundo Eitan, Mengele foi localizado em 1962 e
sua identificação foi confirmada 100% por ele próprio
por meio de comparação com
fotografias. A partir daí teve
início a etapa de coleta de dados para permitir a elaboração da operação de captura.
Mas questões internas e
externas mudariam os planos. Entre os motivos da desistência de Israel esteve o receio de que uma nova operação clandestina abalasse as
relações com o Brasil.
A captura de Eichmann
gerou séria crise com a Argentina, que indignou-se
com a violação de sua soberania e expulsou o embaixador israelense no país. Segundo Eitan, Israel não quis
correr o risco de que o mesmo
ocorresse com o Brasil.
Também surgiram preocupações mais imediatas, entre
elas a revelação de que a Alemanha estava ajudando o
Egito, na época o principal
inimigo de Israel, a desenvolver um programa de mísseis.
"Uma operação de captura
exige muito tempo e recursos
e nos anos seguintes surgiram outras prioridades, como a Guerra dos Seis Dias
[1967]", diz o ex-espião.
Segundo Eitan, a descoberta de que Mengele estava
em São Paulo desde a década
de 60 não foi compartilhada
com o governo brasileiro porque Israel achava que, se ela
fosse divulgada, a comunidade alemã no país daria um
jeito de ajudá-lo a escapar.
"Decidimos guardar a informação até ter uma chance de
agir, mas ela nunca veio", diz
o ex-chefe do Mossad.
Sobre a polêmica em torno
da identificação da ossada de
Mengele, que foi colocada
em dúvida na época da descoberta feita por Romeu Tuma, Eitan é categórico. Segundo ele, amostras do DNA
enviadas a Israel comprovaram que o alemão de identidade falsa que se afogou em
Bertioga em 1979 era mesmo
o "Anjo da Morte".
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