São Paulo, domingo, 29 de novembro de 2009

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NO RIO

O segredo das mais charmosas livrarias da cidade

por HELOISA SEIXAS

CHEIAS DE CHARME

Alguns ingredientes que fazem a simpatia das livrarias cariocas

É mais ou menos um consenso que as livrarias do Rio têm um charme todo especial, mas ninguém sabe dizer direito de onde ele vem. Minha teoria é que esse charme vem de três ingredientes fundamentais (além do acervo de livros, claro): bagunça, simpatia e café.

Quando digo bagunça, estou falando de uma doce desarrumação, de uma maneira meio blasé de arrumar os livros, deixando o visitante à vontade para mexer em tudo, sem se reprimir. Uma livraria organizada demais acaba sendo hostil. Ela precisa ter um colorido humano, não pode ser ascética. A livraria excessivamente arrumada lembra aquelas estantes de quem não gosta de ler, com todos os livros da mesma cor, como se comprados a metro. Já a simpatia vai muito além do sorriso: é preciso que os vendedores saibam o que estão vendendo, façam sugestões, dêem palpites, puxem conversa. Se o próprio dono da livraria estiver por ali, atrás do balcão ou não, é melhor ainda. E a existência de um café dentro da loja, por menor que seja, passou a ser fundamental.

SALVE SIMPATIA
O tamanho da livraria não importa. E, para provar o que estou dizendo, vou começar falando de uma livraria pequeníssima, mas que tem tudo o que mencionei há pouco: a Folha Seca, na rua do Ouvidor. A Folha Seca é especializada em livros sobre o Rio e sobre futebol –e sua simpatia já começa aí. Ela fica num casarão da Ouvidor, daqueles centenários, com portas em arco e portais de granito. Seu dono, o Rodrigo, está sempre atrás do balcão. E, como não há espaço para um café (a livraria é mesmo minúscula), há um pequeno balcão e uma cafeteira (pilotada pelo próprio Rodrigo). Isso e um papo delicioso e pronto –não precisa mais nada para fazer uma charmosa livraria carioca.

Outra também pequena (mas não tanto) que também é interessante é a Prefácio, na rua Voluntários da Pátria, em Botafogo. Seu mezanino antigamente abrigava um sebo (mas não vou falar de sebos, porque isso seria outro capítulo), que de uns tempos para cá se transformou num pequeno restaurante, tão charmoso quanto a livraria.

Entre as maiores, a Argumento do Leblon é uma das pioneiras em ter um café dentro, embora o seu tenha surgido pouco depois do café da Bookmakers, na Gávea, livraria que, infelizmente, não existe mais. Aberta em 1978, numa época em que a rua Dias Ferreira ainda nem sonhava em aparecer na novela, a Argumento também tem todos os ingredientes de uma livraria simpática, inclusive a presença eventual de um ou outro membro da família Gasparian (Marcos ou Laurinha), que a fundou.

Mas, em matéria de charme, é difícil concorrer com a Livraria da Travessa. Tudo começou com a loja da Travessa do Ouvidor (daí o nome). Hoje, são sete fi liais espalhadas pela cidade, mas a mais interessante de todas continua sendo a de Ipanema, conhecida pelos íntimos como Travessão. Lá, sempre podemos puxar conversa com os gerentes Benjamim ou Marcelo e com vendedores como Flamínio e Antonio. Todos eles são grandes conhecedores de literatura e têm sempre opiniões ótimas sobre tudo. Isso se o próprio Ruy Campos, dono da rede, não estiver por ali (o que acontece a toda hora). Em segundo lugar entre as Travessas, eu poria a filial da avenida Rio Branco, já no caminho da praça Mauá. Como fica num prédio antigo, a loja tem pédireito altíssimo, colunas que lembram os velhos lampiões e uma bela paisagem do Rio Antigo pintada na parede do mezanino, onde fica o café. E simpatia não falta.

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