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DO PÉ AO PÓ
Cresce popularidade do ritmo que tem como expoentes Pixinguinha e Ernesto Nazareth; há shows em praças
Choro angaria adeptos no Vale do Café
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quem visita as cidades do Vale
do Café testemunha o renascimento de um dos principais ritmos da música brasileira: o choro.
Surgido no fim do século 19 como uma forma abrasileirada de
tocar gêneros estrangeiros, o choro passou por um longo período
de esquecimento, mas vem ressurgindo e ganhando adeptos.
Com violões, bandolins, cavaquinhos e pandeiros prontos para
revelar a essência desse ritmo derivado da polca e do lundu, grupos de choro pipocam por toda a
região do Vale do Café e atraem
para suas cidades turistas apaixonados por composições de Pixinguinha, Ernesto Nazareth e Jacob
do Bandolim, entre outros.
Mendes é, sem dúvida, uma
dessas cidades da serra do Mar
que soam a choro. Todos os domingos a partir das 10 horas, a
praça central reúne, ao ar livre, alguns grupos patrocinados pela
prefeitura que tocam por ao menos três horas.
Conversão
"Tenho certeza de que o choro é
a música do futuro. Nós já conseguimos até mesmo converter um
grupo que antes tocava pagode
aqui em Mendes a tocar choro",
conta o arquiteto e produtor rural
Alexandre Paiva, responsável pelo cavaquinho frenético do grupo
Passagem de Nível.
Para Paiva, quem visita sua cidade não pode comprovar que ela
é mesmo "a capital do choro no
Estado do Rio de Janeiro", título
que recebeu em dezembro do ano
passado, após ser sede do 1º Festival Nacional de Choro, que reuniu cerca de 350 músicos.
Quem assiste aos shows do Passagem de Nível, que costuma se
apresentar na região, constata um
fato curioso: o choro está se transformando em coisa de gente muito jovem. O bandolinista Antonio
Dantas, por exemplo, tem 22
anos, mas afirma sem pestanejar
que "o choro não tem idade" e
que já o conquistou.
"Depois de assistir a uma palestra sobre bandolim na Escola de
Música Villa-Lobos, deixei o violão e resolvi me dedicar ao choro", conta o estudante de engenharia ao explicar que seu ritmo
preferido exige técnica e treino.
Barra do Piraí é outro centro de
choro. O arquiteto Josemar
Coimbra, apaixonado pelo gênero, é prova disso: todos os sábados
e domingos de manhã, ele incorpora a figura de um barão do café,
vestindo casaco e colete adornados por comendas imperiais, e faz
um show para alegrar o café da
manhã da pousada Martinez, em
Conservatória, distrito de Valença. "Acordar ao som de choro é
outra coisa", diz o responsável pelo pandeiro do grupo Chorinho
na Serra. Para ele, que aprendeu a
tocar com o pai, "a beleza [do
choro] reside no fato de ele ter
misturado a polca com ritmos negros de percussão e de ter aclimatado instrumentos como o banjo,
mostrando sua pura brasilidade".
Em sua opinião, o ritmo vem
ganhando espaço na região devido ao surgimento de novos compositores. "Acho que esse renascimento se deve ao fato de termos
gente nova aqui, de estarmos produzindo arranjos originais e modernizando o estilo com novas linhas melódicas", diz Coimbra.
(CRISTINA TARDÁGUILA FERREIRA)
Pousada Martinez - Rua Benjamin Miguel, 35, Conservatória, Valença. Tel: 0/xx/24/2438-1260; www.pousadamartinez.com.br.
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