São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DO PÉ AO PÓ

Cresce popularidade do ritmo que tem como expoentes Pixinguinha e Ernesto Nazareth; há shows em praças

Choro angaria adeptos no Vale do Café

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quem visita as cidades do Vale do Café testemunha o renascimento de um dos principais ritmos da música brasileira: o choro.
Surgido no fim do século 19 como uma forma abrasileirada de tocar gêneros estrangeiros, o choro passou por um longo período de esquecimento, mas vem ressurgindo e ganhando adeptos.
Com violões, bandolins, cavaquinhos e pandeiros prontos para revelar a essência desse ritmo derivado da polca e do lundu, grupos de choro pipocam por toda a região do Vale do Café e atraem para suas cidades turistas apaixonados por composições de Pixinguinha, Ernesto Nazareth e Jacob do Bandolim, entre outros.
Mendes é, sem dúvida, uma dessas cidades da serra do Mar que soam a choro. Todos os domingos a partir das 10 horas, a praça central reúne, ao ar livre, alguns grupos patrocinados pela prefeitura que tocam por ao menos três horas.

Conversão
"Tenho certeza de que o choro é a música do futuro. Nós já conseguimos até mesmo converter um grupo que antes tocava pagode aqui em Mendes a tocar choro", conta o arquiteto e produtor rural Alexandre Paiva, responsável pelo cavaquinho frenético do grupo Passagem de Nível.
Para Paiva, quem visita sua cidade não pode comprovar que ela é mesmo "a capital do choro no Estado do Rio de Janeiro", título que recebeu em dezembro do ano passado, após ser sede do 1º Festival Nacional de Choro, que reuniu cerca de 350 músicos.
Quem assiste aos shows do Passagem de Nível, que costuma se apresentar na região, constata um fato curioso: o choro está se transformando em coisa de gente muito jovem. O bandolinista Antonio Dantas, por exemplo, tem 22 anos, mas afirma sem pestanejar que "o choro não tem idade" e que já o conquistou.
"Depois de assistir a uma palestra sobre bandolim na Escola de Música Villa-Lobos, deixei o violão e resolvi me dedicar ao choro", conta o estudante de engenharia ao explicar que seu ritmo preferido exige técnica e treino.
Barra do Piraí é outro centro de choro. O arquiteto Josemar Coimbra, apaixonado pelo gênero, é prova disso: todos os sábados e domingos de manhã, ele incorpora a figura de um barão do café, vestindo casaco e colete adornados por comendas imperiais, e faz um show para alegrar o café da manhã da pousada Martinez, em Conservatória, distrito de Valença. "Acordar ao som de choro é outra coisa", diz o responsável pelo pandeiro do grupo Chorinho na Serra. Para ele, que aprendeu a tocar com o pai, "a beleza [do choro] reside no fato de ele ter misturado a polca com ritmos negros de percussão e de ter aclimatado instrumentos como o banjo, mostrando sua pura brasilidade".
Em sua opinião, o ritmo vem ganhando espaço na região devido ao surgimento de novos compositores. "Acho que esse renascimento se deve ao fato de termos gente nova aqui, de estarmos produzindo arranjos originais e modernizando o estilo com novas linhas melódicas", diz Coimbra.
(CRISTINA TARDÁGUILA FERREIRA)

Pousada Martinez - Rua Benjamin Miguel, 35, Conservatória, Valença. Tel: 0/xx/24/2438-1260; www.pousadamartinez.com.br.


Texto Anterior: Ébrio: Alambiques propagandeiam destilado
Próximo Texto: Do pé ao pó: Esculturas ocupam terreno de café em Paty do Alferes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.