O diabo no meio do redemoinho

Obra do russo Mikhail Bulgákov pode inspirar o Rio a sair das trevas

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Além dos ensinamentos técnicos e táticos que serão prontamente introduzidos no Brasileirão —o principal deles uma frase que cansei de ouvir em meus tempos de repórter esportivo: “Cuidado com a bola parada!”—, a Copa do Mundo também apresenta lições de literatura. Por que não?

A repórter Vivian Oswald revelou a existência de um passeio —ainda por cima noturno, começando à 1h da madrugada e só terminando às 6h da manhã— inspirado na obra mais célebre do romancista e dramaturgo Mikhail Bulgákov (1891-1940). “O Mestre e Margarida” narra a chegada do diabo —o próprio, o Belzebu, o Satanás, o Coisa-Ruim— em plena Moscou comunista dos anos 1930. Ele não vem sozinho. Ao seu lado estão uma bela feiticeira, um capanga de monóculo rachado e —meu personagem preferido— Behemoth, um gigantesco gato preto falante.   

O livro é uma sátira que retira a máscara dos regimes ditatoriais useiros e vezeiros em enganar, censurar e reprimir. Em sua denúncia da covardia, da cobiça, dos falsos profetas e dos efeitos do mal na sociedade, vale para o Brasil de hoje —que flerta com as trevas, ao sapatear no rabo do Tinhoso.

Os cariocas fizemos a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, e não há um tour literário sequer parecido, apesar das ofertas. O romance “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, é um roteiro pronto, partindo da rua de Matacavalos (atual Riachuelo, no Centro), onde Bentinho e Capitu se conheceram, até a praia do Flamengo, local da ressaca que afogou Escobar. Se a opção for os subúrbios, temos a obra inteira de Lima Barreto. Que tal o Leme, bairro tão presente nas crônicas de Clarice Lispector? Ou o espaço geográfico íntimo de Sérgio Sant’Anna, entre Botafogo, Laranjeiras e o largo do Machado?

Sugestão mais radical é convidar ambos —o diabo e o gato de Bulgákov— a conhecer o Rio, que atualmente sofre com os descarregos do prefeito Crivella. 

O romancista e dramaturgo Mikhail Bulgákov (1891-1940) - Reprodução

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