Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Alvaro Costa e Silva
Descrição de chapéu Copa do Mundo

Nem bolero, nem futebol

A identidade da América Latina é uma abstração

Poderia haver uma semifinal com dois países sul-americanos. Paciência. O Uruguai caiu para a França, inapelavelmente. O Brasil também foi até onde dava. Com um pouco de sorte e melhor pontaria, talvez tivéssemos passado. Mas seria injusto com a Bélgica, que no primeiro tempo desmontou nosso time —que sem Casemiro e Filipe Luís já entrara desarrumado na defesa. 

O convite da CBF a Tite para seguir no comando da seleção prova que as frases motivacionais vão continuar em alta. Assim como a teimosia, qualidade inerente a quem ocupa o cargo de técnico desde os idos de Telê Santana. 

Apesar da tristeza pela eliminação, a Copa do Mundo compensa com lances divertidos que nem sempre acontecem dentro de campo ou nas arquibancadas coloridas. Nessa época ressurge uma etiqueta inventada por diplomatas e intelectuais franceses no século 19 que não deixa de ser engraçada. Uma absurda e desmiolada abstração: a ideia de existir uma América Latina única e indivisível, continente e meio que é tratado como se fosse um só país. Nada é mais falso do que essa identidade.

O que Cuba tem a ver com o México? Nem a maneira de tocar ou cantar bolero é igual. O escritor cubano Guillermo Cabrera Infante explicou: “Em Cuba um mexicano é mais estrangeiro que um espanhol e Panamá é um chapéu”. Em que o Paraguai é parecido com o Uruguai? A Colômbia com o Peru? A Argentina com o Brasil? Nem no estilo de jogar futebol lembramos uns aos outros.

E quando nós participamos da conversa, a teoria da língua como cordão umbilical aborta: não entendemos o espanhol e eles entendem menos ainda o português. Nossa opção como segunda e muitas vezes como primeira língua é o inglês. 

Admirador dos jogos de palavras, Cabrera Infante não recomendava que brasileiros entrassem numa bodega de Havana e pedissem uma pinga. Pinga, lá, é o nome popular do pênis. 
 

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.