Vamos nos alimentar com pílulas

Já que temos dificuldades com os textos longos, vou contar em parágrafos

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Lá pelos anos 1970, a revista mais cuidada que havia era a americana Ladie's Home Journal. Brilhante, colorida, revista de casa, “revista de mulher”, mas com ótimos contos e fotos formidáveis. Lembro bem que uma das seções era escrita por Ann Batchelder, constituída de 30 parágrafos, um para cada dia do mês. Acho que inventou antes da hora o Twitter, a sabedoria vinha condensada naquela rápida leitura. Vejo como temos dificuldade em ler textos longos na internet, quem sabe de agora em diante vamos nos alimentar com pílulas, como sempre foi o sonho?

Peças de parmigiano-reggiano em Bibbiano, Itália - Marco Vasini/AP

Não custa experimentar. E há tantas ideias de chefs coalhados de estrelas que se esforçam todo o tempo  com suas máquinas, vestindo as receitas com outra roupagem, interpretando-as, esmigalhando-as, transformando os molhos em gotas, espremendo massas para achar a infância, a mesa da família. Li o livro do Massimo Bottura , que é um chef-cabeça, e senti essa preocupação viva nele. Posso contar  imitando os parágrafos de Ann Batchelder.

- Quantas vezes vamos fazer um macarrão e nos decepcionamos pois só há restos de massa diferentes? Não vai dar, resolvemos nós. Pois o chef, depois de muito pensar, inventou um prato com três massas diferentes acompanhadas por um ragu de três carnes.

- Alguém gosta de feijão com macarrão? Essa sopa o Bottura não teve coragem de mudar. Era tradicional demais. Massa com feijão borlotti, aquele pintadinho de vermelho.

- E inventou uma sobremesa com três queijos diferentes, mas no caminho mudou de ideia e usa o  mesmo queijo em três fases diferentes de desenvolvimento. Um parmesão novo, um médio e um velho. O último com 50 anos. Já imaginaram um prato que pode levar 50 anos a ser feito?

- Uma fatia de melão salteada na manteiga, com casca, na frigideira. Não mexer muito para não atrapalhar a caramelização. O molho: vinho do Porto com vinagre balsâmico reduzido por uns 20 minutos, tudo servido com uma bolota de sorvete de creme e um palito de massa folhada. (Riram da Bela com o churrasco de melancia....)

- Tenho tido dificuldade de achar bons ingredientes no meu bairro. Fiquei muito feliz com a volta do Mercado de Pinheiros. Mas que lugar quente! Na reforma transformaram o mercado numa fornalha, e você quer sair de lá o mais cedo possível.

- No bufê andávamos sempre à procura de como rechear alcachofras de um jeito que os clientes adorassem. Afinal, descobrimos, brasileiramente. Umas folhinhas daquelas bem tenras à volta do prato, e uma farofa quente de farinha de mandioca e manteiga sobre o coração.-

- Um feijão preto, normal, com caldo, e na hora de servir folhas frescas de coentro e leite de coco a gosto. Isso é coisa do Eric Ripert, do Bernardin. Vê-se que ele andou pelos trópicos, talvez Bahia!

- Qual cozinheiro não adora facas? Um prêmio para quem mandar o endereço de um bom afiador profissional. Aqueles de rua são românticos, mas estragam o fio.

- E li no Facebook texto da Marisa Tiemi Ono, sempre criativa e cheia de credibilidade. “E ontem, na TV japonesa, falaram de um peixe maravilhoso, de carne rosada, com quase tanta gordura quanto o atum, com mais colágeno que o fugu, que pode ser comido tanto cru quanto cozido. O preço dele pode chegar a US$ 200 o quilo (vindo de um espécime adulto com quase 10 kg.) É um peixe que melhora com a maturação (na geladeira). Que peixe fabuloso é esse? A garoupa.”

- E por falar em coco, olhem uma bebida mexicana, um coquetel bom para curar ressaca. Faz a maior sujeira, mas é engraçado. É que a pimenta-calabresa que deveria ficar grudada na beirada do copo cai entre seus dedos.

Dá um drinque.

1 coco, 2 colheres de mel, 2 pimentas secas numa frigideira e moídas. (reserve ¼ de 1 colher de chá para a beira do copo) e 1 pimenta para enfeitar.

Faça um furo no coco. Junte o mel e chacoalhe bem. Despeje num copo gelado com a pimenta moída nas bordas e enfeite com 1 pimenta fresca.

Pronto, há parágrafos para uma semana. Até a próxima!

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