Nina Horta

Escritora e colunista de gastronomia, formada em educação pela USP.

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Nina Horta

Quem adora cupcake?

Ao fazer uma maratona na TV, me indignei com a guerra de cupcake

Com a ideia de pesquisar novas comidas, ou melhor, de me reaproximar do que se está comendo no mundo, estou fazendo uma maratona de programas de TV, filmes, tudo o que possa trazer novidades.

Cupcakes em diversos sabores
Cupcakes em diversos sabores

Nada de impactante, qualquer coisa serve. Como uma redução de hibisco feita com açúcar demerara, chuchu cru descascado como macarrãozinho. Não é uma felicidade desviar a cabeça por um tempo de tanta coisa irremediavelmente ruim? Não foi bem o que aconteceu, porque logo logo me indignei. Afinal, pagamos mensalidades por esses canais de TV e eles repetem o mesmo programa o mês inteiro, três vezes ao dia! Se me mostrarem um cupcake ao vivo, sou capaz de sair correndo de medo! A guerra dos cupcakes, afinal, quem se importa com isso? E quem adora cupcake?

Cada dia admiro mais a aula de cozinha da Rita Lobo e dou parabéns a essa equipe que entende tanto de comida caseira, que sabe fazer menus, prender o interesse, tudo no ponto certo, sem exageros, sem gritaria, sem concurso. E o profissionalismo da Rita, agora ainda mais linda, leve e solta, bom gosto na preparação dos pratos, na louça, mesmo no modo de se vestir e no gestual próprio da cozinha. Pensam que é fácil? Pois, não é. Eu sempre soube que um dia ela seria nossa Martha Stewart dos tempos áureos.

O rapaz do fogo, que incendiava, ou melhor, incendeia todas as comidas, da entrada à sobremesa, está bem nessa temporada, muito mais caprichada e apetitosa. Pode ficar orgulhoso.

A Bela Gil sempre me agrada, tampo os ouvidos quando entra nos valores medicinais da comida, e gosto do que ela faz sem estranhar quase nada. Acho que fui criada com comida parecida com a dela, só que sem as cascas. Mas tenho medo de me pronunciar sobre o programa, sou parcial, sem querer. Filha do Gil, e a família toda tão inteligente e simpática, já me faz suspeita. E tão natural, tão bonita e confiante em si.

E aquele menino que inventou de fazer um programa de comida que é um concurso e ainda por cima cheio de jogos e de regras? Quiz, quiz. Sempre gostei da comida dele, acho desempenado, falante, curioso, competitivo, mas misturou tudo num programa só, nem ele está entendendo direito. Espero que saia logo desse labirinto onde se meteu.

Além dos cupcakes, tenho percebido que os americanos que querem construir um muro para se livrar dos mexicanos construíram um túnel para a comida Tex-Mex, e comem pimentas e os tacos e os burritos como se eles próprios tivessem inventado tudo. Não há abacate nem jalapeño que chegue.

Os programas do canal de comida, com o qual sonhei por tanto tempo, são medíocres, sem ofender. Uma boa correria de meia hora para apresentar uma refeição completa, dão risada demais, fazem caretas demais, tudo meio falsificado. Gosto bem quando saem por um bairro americano achando comidas, queijos, sorvetes, presuntos, com endereço e mostrando o nome da rua, enfim dando serviço. Adoram um doce e um hambúrguer, esses americanos.

Um ou outro viajante é interessante. Me dá uma saudade do Bourdain, lá isso dá. Assisti dois velhotes feios como a morte mostrando comida de rua inglesa na China, na Tailândia e no Japão e não achei de todo ruim como era de se esperar. O programa, ou melhor, a pequena série de Samin Nosrat (autora do livro que acabei de traduzir), Sal, Gordura, Ácido e Calor, na Netflix, é bonita.

A minha maior vontade, no entanto, é ver alguém experimentando uma comida e achando horrível, tendo que cuspir e pedir desculpas em público. Ora, por que não? Acontece nas melhores famílias. E vocês, o que descobriram de novo para assistirmos?

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