Vovô tinha razão, tudo muda e fica tudo na mesma

Reflexões de ano novo devem ser para acertar o prumo

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Feliz ano novo!

Poucos dias depois de dizer essa frase, no Réveillon de 1983, vovô passou pela sala puxando a orelha de seu neto mais velho. Era eu. Na minha juventude, nunca soube que vovô e vovó tinham nomes. Só fui descobrir isso depois do nascimento de meus filhos, João Pedro e Bruna. Porque os pais de minha mãe, seu Francisco e dona Maria, morreram antes de eu completar cinco anos. Daí que só tive vovô e vovó.

Apresentação do técnico Jorge Sampaoli na equipe do Santos para a temporada 2019 - Ivan Storti - 23.dez.2018/Santos FC

Meus filhos aprenderam cedo que tinham vó Irene e vó Iva, vô Lu e vô Roberto. Para mim, parente com nome eram só os tios. O Sílvio, o Binho, o Celso, o Nélson, a tia Ni. Os pais do meu pai chamavam-se Alexandrino e Maria Emília. Que importância isso tinha? Para mim eram vovô e vovó.

Vovô foi quem primeiro me levou a um estádio. Portuguesa 2 x 1 Juventus, 29 de março de 1975. A pesquisa só foi possível porque a memória conta que a Lusa jogava de branco, e tinha Tatá, o Juventus de grená escalava Tata, depois assistente de Muricy Ramalho.

Vovó morreu em 1982 e vovô foi morar em casa. Daí que disse “feliz 1983” na minha sala. E, no mesmo lugar, me via deitado no chão lendo os jornais em busca de informações sobre contratações durante janeiro. O Palmeiras negociava com o Guarani para contratar Careca, mas o São Paulo também o queria, porque tinha acabado de vender Serginho para o Santos, que também comprou Paulo Isidoro, do Grêmio, e Dema do Comercial-MS. Sim, havia futebol em Campo Grande.

O Corinthians era o melhor time de São Paulo e contentou-se em contratar o goleiro Leão, do Grêmio, e o ponta Paulo Egídio, do Botafogo-SP.

Sei que vovô passava pela sala e falava alto: “Que é que tu estás aí a procurar notícias sobre teu time? Estás a pensar que vai mudar tudo, mas não vai mudar nada. Daqui a três meses estão todos na mesma.” Eu olhava com cara de espanto. O São Paulo fechou com Careca, o Palmeiras contratou o Batista, com o apoio do G.A.P., o grupo de apoio ao presidente Paschoal Giuliano, formado por empresários palmeirenses. Como é que ia dar tudo na mesma?

No final de abril o Palmeiras empatou com o Vasco e foi eliminado do Brasileiro. Em maio, o São Paulo caiu contra o Atlético-PR num mata-mata e só o Santos avançou até a final contra o Flamengo. Mas campeão naquele ano, aliás bi, só o Corinthians de Sócrates e Casagrande. Tudo na mesma.

A lembrança veio nesta semana junto com os telefonemas e leituras para saber o que vai mudar em cada grande clube brasileiro em 2019. O Corinthians de Ramiros e Romeros, o São Paulo de Pablo, o Santos de Sampaoli, o Flamengo da calma e o Palmeiras da pressa, que reforça um time que já é forte, porque campeão brasileiro. Dezembro e janeiro pedem agilidade de dirigentes e informações dos jornalistas. Mas dê uma olhada para um ano atrás e pense no que o mercado ofereceu.

O Palmeiras contratou Lucas Lima e seu melhor jogador foi Dudu. O Santos trouxe Gabriel, artilheiro do Brasileiro, mas não foi campeão. O São Paulo contratou Nenê e Diego Souza. Também não ganhou nada. O melhor do Corinthians no ano foi Rodriguinho, que já estava lá no verão e foi embora no inverno preto e branco para o segundo semestre ficar cinza.

O vice-presidente de futebol do Flamengo, Marcos Braz, diz: “Nós precisávamos da política para ganhar a eleição, mas não vamos fazer política para fazer a gestão.” Brilhante! Não quer dizer que não vai contratar, mas que não vai sair comprando só para dar satisfação e dizer que ano novo precisa ter vida nova.

Não! Reflexões de ano novo são para acertar o prumo.

Vovô é que tinha razão.

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