Copa do Mundo se encaminha para uma final vegetariana
Tem tudo para ser um desses jogos que a gente já tem fastio de ver ainda na fase de grupos
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Às vezes acontecia: éramos adolescentes e havia uma festa que parecia boa, mas, por uma razão qualquer, a galera mais legal não ia.
Igualzinho a esta Copa. A Holanda e a Itália nem responderam ao convite. A Alemanha foi, mas saiu logo. Grandes equipes, como Espanha, Argentina, Brasil e Portugal (cof, cof), também foram embora bem cedo.
Ainda vai acabar com um Bélgica x Croácia, um desses jogos que a gente já tem fastio de ver ainda na fase de grupos, quanto mais na final.
A atitude sensata é ser eliminado, como nós fizemos. Educadamente, perdemos por 2 a 1 e saímos. Não queremos ser vistos num evento mixuruca.
Estou preocupado com os garotos tailandeses que ficaram presos com o seu treinador numa gruta durante duas semanas e que, felizmente, estão agora a ser resgatados.
Radiantes por saírem da sua prisão subterrânea, vão certamente perguntar aos amigos e familiares: "Contem tudo, o que é que a gente perdeu? Já houve um Argentina x Alemanha? Um Espanha x Brasil? Cristiano Ronaldo, Neymar e Messi têm jogado bem?".
Quando lhes disserem que Croácia, Inglaterra, França e Bélgica vão decidir quem vai à final, pode ser um choque. Resistiram que nem heróis, agarraram-se à vida, foram retirados do ventre da terra como se fosse um segundo nascimento --e é este o mundo desinteressante e chato que temos para lhes apresentar?
Sim, ainda pode haver um Inglaterra x França na final. Mas não deixa de ser uma desilusão.
Os ingleses já venceram uma Copa, mas só porque ainda não havia VAR. E a França também foi campeã, e já esteve noutra final, mas sempre contra grandes potências, várias vezes vencedoras da Copa.
A picanha é Brasil, Itália, Alemanha, Argentina. Um Brasil x Alemanha, como em 2002, é rodízio de picanha. A gente também aceita uma final de picanha com arroz, como um Brasil x França ou um Alemanha x Inglaterra. Mas Inglaterra x França é arroz e feijão. Não há picanha. É uma final vegetariana.
Parece que a Copa não quer melindrar sensibilidades. Antoine Griezmann, o francês que não celebrou o gol que fez aos uruguaios, deu o mote: gosta do Uruguai, por isso não festejou. Que brincadeira é essa? Quer dizer que a gente só festeja gols contra países que odeia? Pelo amor de deus, Antoine. Alegria não ofende.