Asas aos gritos

Se importamos ararinhas da Alemanha, por que não também alguns honestos?

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É de nos deixar estupefatos. O Brasil está importando da Alemanha 50 exemplares da ararinha-azul, extinta aqui há décadas, a fim de formar uma nova população da espécie. Isso feito, elas serão soltas na natureza para repovoar o sertão baiano, de que já foram, um dia, exclusivas. Esse lote é parte das últimas 158 ararinhas-azuis hoje existentes no mundo, todas em cativeiro  —141 das quais em Berlim, sob a guarda de uma organização, a ACPT (Association for the Conservation of Threatened Parrots), de um idealista alemão, Martin Guth.     

A ararinha-azul não está sozinha nas preocupações da ACTP. Ela é só uma das espécies vulneráveis, ameaçadas ou já extintas de papagaios brasileiros. Por sorte, há hoje muita gente séria se preocupando com os papagaios no Brasil, mas dói imaginar o que fizemos com eles em nossa história. Nesses 500 anos, nós os capturamos, cortamos suas asas para impedi-los de fugir, vendemo-los individualmente ou em lotes e transportamos nas condições mais cruéis ou simplesmente os abatemos, depenamos e servimos ensopados —em 1808, uma galinha custava mais caro no mercado do que um papagaio.

“Asas aos gritos.” Esta foi a grande imagem com que, em seu livro “Vamos Caçar Papagaios”, de 1926, o poeta Cassiano Ricardo descreveu o protesto dos maracanãs, tiribas e periquitos à entrada do homem no mato. Mas, apesar de seus gritos lancinantes —“em verde comício”, como escreveu Cassiano—, os papagaios perderam. E é vergonhoso que, hoje, tenhamos de recorrer aos de fora para recuperar o que um dia foi nosso.

Já que vamos importar da Alemanha 50 ararinhas-azuis, por que não mandar trazer igual número de políticos, ministros de Estado, empresários, advogados e até juízes para que se reproduzam aqui e, com o tempo, substituam alguns dos nossos atualmente em exercício ou fora dele?  

E rápido, antes que o Brasil também esteja extinto.    
 

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