Descrição de chapéu Otavio Frias Filho

Olhos nos olhos

Otavio realmente ouvia o que os outros tinham a dizer

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Em fevereiro de 2007, quando Otavio Frias Filho me telefonou, convidando-me a voltar para a Folha e a revezar com Carlos Heitor Cony neste espaço, aceitei e perguntei-lhe se queria colunas especificamente sobre o Rio. Ele respondeu: “Não. Escreva sobre o que quiser. Mas sempre de um ponto de vista carioca”. Entendi. O Rio, com seu histórico de quase 300 anos como ex-capital da Colônia, do Império e da República, habituara-se a ter um olhar cético sobre o poder e seus representantes —difícil levar a sério pessoas que se julgam capazes de mandar no Brasil. 

Seria um contraponto à sobriedade da página 2, dedicada aos editoriais e artigos sobre política e economia —assim como, nos anos 60 e 70, o jornal Washington Post tinha Art Buchwald, também três vezes por semana, para ajudar o leitor a desconfiar do poder. Não é uma tarefa para principiantes —muitos leitores não gostam de ver seus favoritos serem menos levados a sério. Mencionei Buchwald, e Otavio gostou de saber que, num passado remoto, quando a revista Manchete detinha a exclusividade sobre o cronista americano no Brasil, eu era o seu tradutor. 

Na verdade, a visão de Otavio para a coluna Rio era a mesma que ele dedicava a todas da Folha —a exigência de que transmitissem pontos de vista pessoais. Para isso, o restante inteiro do jornal, voltado para a informação, deveria ser o mais neutro, impessoal e objetivo possível, como, aliás, preconizado no projeto que ele lançara em 1984. 

Em 1984, aos 36 anos, eu era um dos repórteres especiais do jornal e me sentia com uma experiência de séculos. Já Otavio parecia ainda mais jovem do que os seus 27. Mas tinha algo que eu nunca vira nos diretores de jornal com quem trabalhara. Ao nos chamar para conversar, ele cravava os olhos nos olhos do interlocutor, como se estivesse profundamente interessado no que o outro tinha a dizer.

E estava mesmo. 

Otavio Frias Filho, já como diretor de Redação, durante reunião de fechamento do jornal, em 1989 - Fábio M. Salles - 25.mai.89/Folhapress

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