Grupos e entidades tentam ampliar mercado consumidor de orgânicos

Iniciativas paulistanas promovem degustações, debates e atividades em torno da sustentabilidade

Crianças brincam na edição 2017 do festival de orgânicos Da Terra ao Prato  - Rodolfo Goud/Divulgação

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Cristiana Couto
São Paulo

Enquanto os produtores orgânicos trabalham na terra, outros personagens da cadeia tentam conectá-los com o consumidor por meio da comunicação. "Nosso papel é fazê-lo compreender que a agricultura convencional não é viável a longo prazo", diz o produtor Patrick Assumpção, da Fazenda Coruputuba.

Ele concebeu a Feira Viva, evento com venda de alimentos diretamente de produtores rurais, experiências gastronômicas e debates. Em 2017, discutiram-se temas como produção sustentável, sazonalidade, êxodo rural e retomada de ingredientes nativos. A segunda edição deve ocorrer ainda neste ano.

Em seu décimo ano, o festival Da Terra ao Prato reúne dez chefs e 40 expositores orgânicos no parque Villa-Lobos nos dias 4 e 5 de agosto.

Em 2010, mil pessoas foram ao evento; no ano passado, chegou a 20 mil pessoas. "As pessoas despertaram para o tema, querem ter mais saúde e estão percebendo a importância dos orgânicos", afirma a idealizadora do festival, a educadora alimentar e cozinheira Leila D.

A história não acaba em receitas elaboradas com ingredientes orgânicos por Marcelo Bastos (Jiquitaia), Mara Salles (Tordesilhas) e Ana Soares (Mesa III), atrações deste ano. Além da feira e de oficinas, há rodas de conversa com especialistas e cozinheiros sobre temas como o manejo e a preservação do palmito juçara. "Comunidades locais, quilombolas e sistemas agroflorestais mostram que o manejo sustentável é possível economicamente", afirma Leila.

"O produtor pode plantar na mesma terra a vida inteira", complementa Patrick Assumpção, da Feira Viva, especialista em sistemas agroflorestais (plantação de culturas integradas à floresta para recuperação de matas e solos).

Espécies nativas são mais adaptadas ao clima tropical brasileiro, o que reduz a necessidade de manejo. Segundo ele, há 25 mil pequenos produtores capazes de produzir orgânicos por meio desse sistema na porção paulista do Vale do Paraíba. Assumpção defende incentivar a demanda.

A exemplo da lei 16.140/15, que tornou obrigatória a inclusão de alimentos orgânicos ou de base agroecológica na refeição escolar municipal paulistana —cerca de 2,2 milhões de refeições diárias.

Mas marcos legais como este —e a recente lei 16.684/18, que cria a Peapo (Política Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica) do estado de São Paulo— só aconteceram com apoio da sociedade civil.

Mas se a demanda crescente estimula a produção, o acesso ao mercado consumidor ainda é um desafio. "A sazonalidade das culturas orgânicas não gera variação de preço, pois não há excedentes, e dificulta a entrada nos restaurantes", analisa Marcio Stanziani, produtor e secretário-executivo da AAO (Associação de Agricultura Orgânica).

O desafio é ainda maior para quem quer trocar a agricultura convencional pela orgânica. Uma das soluções é a transição agroecológica, parceria da AAO e do instituto Kairós com o governo de São Paulo. O certificado atende agricultores em processo gradual de mudança de sistema produtivo.

10º Da Terra ao Prato - Festival de Gastronomia Orgânica

Nos dias 4 e 5 de agosto, das 10h às 18h. Entrada grátis (pratos custam até R$ 35 e aulas, R$ 90). Pq. Villa-Lobos (av. Prof. Fonseca Rodrigues, 2.001, SP).festgastronomiaorganica.com.br

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