Mortes: Mestre King, precursor da dança afro no Brasil
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Primeiro homem a se formar em dança na Ufba (Universidade Federal da Bahia), Raimundo Bispo dos Santos, o Mestre King, é o criador do gênero afro no Brasil.
Nascido em Santa Inês (BA), mudou-se para Salvador aos 7 anos, adotado por uma família abastada de origem árabe. Adolescente, entrou para o coral e começou a jogar capoeira –ambiente em que foi apelidado de King, por convocar os colegas para as aulas durante o trajeto entre sua casa e o local de treino.
Sua expressão corporal chamou a atenção da etnomusicóloga Emília Biancardi, que lhe apresentou o maculelê e o samba de roda.
Em casa, o som que escutava era outro: heavy metal. Quando foi aconselhado a prestar o vestibular de dança, deixou o rock de lado e escolheu Chopin no teste prático.
Aprovado, era o único negro num ambiente de mulheres brancas. Aprendeu a técnica necessária para desenvolver um gênero autoral, mas afirmava não ter inventado nada. "Misturei dança moderna, contemporânea, maculelê, capoeira. É um misto", disse em depoimento à pesquisadora Débora Ferraz de Oliveira.
Foi com as incursões no candomblé, necessárias para apurar sua dança, que dizia ter descoberto sua identidade negra. "O transe da dança ancestral é totalmente diferente da dança europeia. A dança afro é a energia cósmica dos atabaques", disse à Oliveira.
Nos últimos anos de atividade, dedicava-se a dar aulas na periferia. Dizia que a carência dava a vontade que gerava os verdadeiros talentos.
Morreu no último dia 13, aos 74, de insuficiência renal.
coluna.obituario@grupofolha.com.br