Cearense se torna o primeiro paraplégico a correr Rally dos Sertões

Antônio Cavalcante terá carro adaptado na competição que inicia este domingo (19)

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Cleomar Almeida
São Paulo

Na infância, o cearense Antônio Cavalcante, 49, era menino que vivia correndo nas partidas de futebol de salão e de handebol. Aos 13, caiu do 3º andar do prédio onde morava com os pais e as duas irmãs em Fortaleza. Durante um ano, só conseguiu movimentar a cabeça e o pescoço.

"Pensei que ficaria tetraplégico", afirma ele. Depois de fazer cirurgia em um hospital de Brasília, voltou a mexer o tronco e os braços, mas as pernas continuaram imóveis. De lá para cá, encontrou na cadeira de rodas energia para participar de maratonas, jogos de basquete e competições de tiro ao prato.

Neste domingo (19), Antônio vai se tornar o primeiro paraplégico a participar do Rally dos Sertões, a principal competição off-road do país e uma das maiores do mundo em percurso e quantidade de inscritos. A largada será em Goiânia e o trajeto da competição de 3.607 km vai seguir por Bahia, Piauí e Ceará.

Paraplégico aos 13 anos de idade, Antônio Cavalcante vai competir no Rally dos Sertões com um carro adaptado - Natinho Rodrigues/Diário do Nordeste/Folhapress

Antônio vai competir dirigindo um carro adaptado na categoria UTV —veículo intermediário entre um carro e um quadriciclo—, que, segundo os organizadores, promete ser a mais acirrada. Ele é um dos 312 inscritos que se dividem em três categorias: carros, motos e quadriciclos.

De todos os competidores, apenas Antônio não movimenta as pernas. "O carro tem acelerador e freio na alavanca do lado esquerdo. Puxo para acelerar e empurro para o freio. Piloto pelo lado direito, mão na direção, com pombo giratório", disse, enquanto fazia os últimos ajustes no carro.

Para a competição, Antônio se preparou 90 dias na academia. "O rali é de muita resistência, a gente passa de oito a nove horas por dia pilotando." 

Ele vai fazer o percurso ao lado de um amigo que convidou para ser o seu navegador e, no total, tem uma equipe com 17 pessoas, de São Paulo e do Ceará, responsável por lhe dar suporte em cada cidade.

Se a cadeira de rodas serviu como combustível para o cearense continuar no esporte, o UTV se apresenta como uma das maiores oportunidades para experimentar a sensação de liberdade. O veículo pode desenvolver velocidade de até 160 km/h.

Ele diz que é preciso ter muita atenção o tempo todo. "Serão sete etapas. Na primeira, vamos passar por vários tipos de pisos. Tem muita pedra, rocha, areia e chão".

Antônio, que participou de competições menores, quer mostrar para si mesmo que é possível superar desafios. "Fui quebrando barreiras até chegar a esse rali".

Nos esportes, ele também encontrou fôlego para driblar a discriminação que sofreu quando jovem. "Hoje já mudou bastante. Quero continuar mostrando a muitas pessoas deitadas numa cama que o mundo não acabou. Apenas temos que modificar a maneira de viver do momento do acidente para frente."

O percurso se encerra no próximo sábado (25). O otimismo do cearense, que também é empresário no ramo de terraplanagem e locação de máquinas pesadas, aumenta principalmente por saber que na linha de chegada, em Fortaleza, estarão a sua mulher, Vladiana Cavalcante, 38, e a sua filha, Maria Sofia Cavalcante, 5. "Apoio da família é tudo. Se a família não apoia, a gente não se motiva."

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