Na final da Sul-Americana, técnico do Atlético-PR passou por teste de redação

Tiago Nunes, 38, comanda a equipe contra o Junior Barranquilla nesta quarta (5)

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João Gabriel Luiz Cosenzo
São Paulo

Quem nunca precisou fazer uma prova de redação para passar em um vestibular ou começar um emprego novo? Apesar de comum, é difícil imaginar que o método fosse aplicado para escolher um treinador de futebol.

A situação, porém, aconteceu com Tiago Nunes, 38, atual comandante do Atlético-PR, finalista da Copa Sul-Americana. A equipe disputa a primeira partida da decisão contra o Junior Barranquilla nesta quarta-feira (5), no estádio Metropolitano Barranquilla, na Colômbia. O título seria o primeiro internacional do treinador e do clube. 

Antes de chegar ao time paranense, o técnico passou por um verdadeiro processo seletivo, com direito a prova de redação.

O teste, em abril de 2017, o levou a assumir a equipe sub-19. Ele venceu a concorrência de outros dois profissionais.

O treinador, porém, já estava no radar do departamento de futebol dos paranaenses desde 2013, quando trabalhou na base do Grêmio. Três anos depois, foi convidado pelo Atlético-PR para dirigir o sub-20 da Ferroviária, com quem a equipe tinha parceria.

Tiago Nunes durante partida entre Fluminense e Atlético-PR, pela semifinal da Copa Sul-Americana de 2018 - Mauro Pimentel-29.nov.2018/AFP

Na sequência surgiu o convite do Veranópolis. Após ficar em quinto lugar na primeira fase do Campeonato Gaúcho em 2017, ele foi chamado para o processo seletivo.

“Avaliamos a trajetória, a formação acadêmica, o currículo, uma dissertação expondo as ideias, experiências, conceitos e a visão dele para trabalhar no Atlético-PR e uma entrevista”, diz o ex-gerente do Departamento de Informação do Futebol da equipe Willian Thomas, que deixou o cargo em janeiro.

“Ele tinha um perfil que nos agradava e se encaixou naquilo que pensávamos de proposta de jogo, de identidade para o clube. A escolha se mostrou boa tanto na teoria quanto na prática. O Tiago Nunes é uma pessoa de equipe, de grupo, tem conhecimento em todas as áreas”, afirma Paulo Autuori, que na oportunidade era o treinador da equipe principal.

No início, Tiago Nunes comandou a equipe sub-19 no estadual da categoria e no Brasileiro sub-20, onde foi semifinalista. Neste ano, dirigiu o time de aspirantes na conquista do Campeonato Paranaense.

O Atlético-PR abriu mão de jogar o estadual com sua formação principal por uma pré-temporada maior, de olho em outras competições. O time titular era dirigido por Fernando Diniz, demitido durante a parada da Copa do Mundo.

Na oportunidade, o clube paranaense ocupava a vice-lanterna do Brasileiro, com 9 pontos após 12 rodadas.

Sem encontrar um substituto, a diretoria anunciou Tiago Nunes como interino. O clube arrancou e terminou na sétima colocação, com 57 pontos. A campanha foi a segunda melhor do returno.

A vaga na Libertadores de 2019, que escapou por uma posição, pode vir em caso de título na Sul-Americana. Seria a primeira conquista internacional do clube, finalista da Libertadores de 2005.

A equipe disputa a primeira partida da decisão contra o Junior Barranquilla nesta quarta (5), na Colômbia. O segundo confronto está marcado para o dia 12, na Arena da Baixada.

Não foram apenas os resultados da equipe que chamaram a atenção na reta final da temporada, mas também o estilo de jogo do Atlético-PR.

O sucesso, segundo Nunes, se deve a uma retomada das ideias de Autuori, técnico do time de maio de 2016 a março de 2017 —depois ele ainda assumiu a função de diretor.

Com Nunes, a equipe passou a ter mais verticalidade e voltou a atuar com uma linha defensiva de quatro atletas [eram três com Diniz].

Jovens como o zagueiro Léo Pereira, 22, e o lateral esquerdo Renan Lodi, 20, se firmaram na equipe principal.

“O que me surpreendeu foi o seu método moderno de treinamento e a gestão de pessoas. Ele é bastante coerente, verdadeiro. Tem o senso de unir o grupo”, afirma o volante Pierre, ex-Palmeiras, que passou pelo Atlético-PR no primeiro semestre deste ano.

Como auxiliar, preparador físico e técnico, ele já trabalhou em 22 clubes de oito estados. “Descrevo o Tiago Nunes como destemido. Essa migração de preparador físico para treinador foi importante. Ele tem dois pilares: a gestão de pessoas e a parte conceitual, técnica e metodológica dentro de campo”, diz Thomas.

A partir desta quarta, o técnico que passou pelo processo seletivo vai encarar sua maior prova à frente do Atlético-PR.

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