Banido pela Fifa, Del Nero é reverenciado por cartolas antes de festa da CBF

Dirigente recebe presidentes de federação em casa e agradece pela eleição de Caboclo

Sérgio Rangel
Rio de Janeiro

Banido do futebol pela Fifa por corrupção, Marco Polo Del Nero continua influente nos bastidores da CBF. Antes da festa de final de ano da entidade, o dirigente foi reverenciado por presidentes de federações estaduais.

Na manhã de segunda (3), ele recebeu uma comitiva de cerca de dez dirigentes estaduais no seu dúplex de frente para a praia da Barra da Tijuca, um dos endereços mais nobres do Rio.

No encontro, o cartola agradeceu o empenho dos correligionários para a manutenção do seu grupo político na CBF após o seu banimento da Fifa. Ele foi afastado provisoriamente do cargo em dezembro do ano passado.

Apesar da punição imposta pela Fifa proibir o dirigente a se relacionar com cartolas do futebol,  Del Nero não respeitou a determinação. Desde então, ele articulou nos bastidores a eleição de Rogério Caboclo, principal executivo da CBF.

O candidato era rejeitado por parte dos presidentes de federações antes de receber o apoio oficial do ex-presidente da Federação Paulista de Futebol.

Com a benção de Del Nero, Caboclo venceu o pleito com quase unanimidade. Apenas três clubes não votaram (Flamengo, Corinthians e Atlético-PR).

O encontro dos cartolas com o ex-presidente da CBF demorou cerca de meia hora. Além de agradecer o apoio a eleição de seu afilhado político, ele conversou sobre o cenário político apresentado após a eleição de Jair Bolsonaro para comandar o país.

No dia anterior, a cúpula da CBF havia se encontrado com o presidente eleito num camarote do estádio do Palmeiras antes da partida festiva, válida pela última rodada do Campeonato Brasileiro.

A entidade tenta se aproximar de Bolsonaro. Foi dos cartolas da CBF o convite para o presidente eleito entregar o troféu para os jogadores em pleno gramado da arena.

A confederação protagonizou uma série de escândalos nos últimos anos. Além de Del Nero, outros dois ex-comandantes (Ricardo Teixeira e José Maria Marin) foram denunciados por corrupção pelo FBI. Marin cumpre pena nos EUA desde 2015.

Mesmo sem poder, Del Nero é ainda o principal articulador político e comercial da CBF.

Discreto, ele evita badalações, mas sempre é visto em restaurantes próximos da confederação com dirigentes e parceiros comerciais da entidade.

Cartolas que estiveram no apartamento do ex-presidente da CBF ficaram impressionados com o luxo. A casa de Del Nero no Rio foi comprada do empresário Wagner Abrahão, que tem uma série de negócios com a CBF. Ele é responsável por transportar a seleção e clubes que disputam o Brasileiro das Séries C e D.

Em abril de 2015, a Folha revelou que Del Nero comprou o apartamento de Abrahão por R$ 5,2 milhões. O dúplex pertencia a uma empresa dos filhos do empresário.

No acordo, o dirigente repassou ao empresário uma outra cobertura dúplex no condomínio e mais R$ 410 mil, além de um saldo devedor não revelado. A negociação foi considerada suspeita pelo presidente da CPI, senador Romário (PSB-RJ).

Abrahão também foi investigado pela CPI do Futebol no Senado por suspeita de ser favorecido pela confederação em acordos comerciais. Em 2012, a reportagem revelou que a CBF designou quatro empresas do grupo de Abrahão para receber os valores do patrocínio da TAM com a seleção. O contrato foi rompido logo em seguida.

 

A CPI foi encerrada em 2016 com um relatório final que não responsabilizou os cartolas da entidade, acusados na Justiça dos EUA de corrupção.

Del Nero não conseguiu completar o seu mandato. Ocupando cargo semelhante ao de Caboclo, ele foi eleito em 2014 sucessor de Marin.

Mas nunca teve paz no cargo que assumiu em 2015. Pouco mais de um mês depois da sua posse, o FBI iniciou uma operação para prender dirigentes das América do Sul e Central envolvidos em corrupção na Fifa.

Marin foi preso na Suíça. Já Del Nero deixou o país europeu às pressas e nunca mais saiu do Brasil.

Em dezembro, ele foi afastado de forma provisória pela Fifa. Mas em abril, o cartola entrou para a história como o primeiro presidente banido por corrupção pela Fifa.

Segundo o comunicado da entidade, Del Nero foi considerado culpado por suborno e corrupção, oferecer e aceitar presentes e outros benefícios e conflito de interesse.

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