'O Retorno do Herói' é deliberadamente mentiroso e rocambolesco e faz rir
Divertida história de época traz doses de aventura e romance em ritmo ágil
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Pode soar meio paradoxal, mas, às vezes, o exagero é a medida exata. Deliberadamente mentiroso e rocambolesco, “O Retorno do Herói” se vale de diversos predicados para fazer o que tantas comédias não conseguem: provocar riso.
Sob a batuta do cineasta francês Laurent Tirard, um conjunto afinado se apresenta na tela a serviço de uma divertida história de época, que também traz doses generosas de aventura e romance.
França, século 19, final do reinado de Napoleão Bonaparte. Depois de pedir a mão da jovem Pauline (Noémie Merlant) em casamento, o capitão Charles-Grégoire Neuville (Jean Dujardin) é convocado à guerra e nunca mais dá notícias.
Preocupada com sofrimento da irmã, Elisabeth Beaugrand (Mélanie Laurent) passa a escrever cartas em nome do dito cujo e cria um personagem épico, capaz de lidar com elefantes e enfrentar sozinho um exército de 2.000 ingleses.
Porém, o caldo azeda quando o tal embuste retorna à cidade, numa versão muito menos glamorosa. Enganchados nas lorotas de Elisabeth, os dois protagonistas desenvolvem uma relação de ódio, desprezo, dependência e outras coisinhas mais...
Impagável no papel, Jean Dujardin —vencedor do Oscar de melhor ator por “O Artista” (2011)— incorpora a personalidade canalha do capitão Neuville, ao mesmo tempo em que constrói um anti-herói absolutamente cativante. Sem escrúpulos, mas cheio de carisma. Difícil não torcer por ele.
Mélanie Laurent (a Shosanna Dreyfus de “Bastardos Inglórios”), estreante em comédias, mostra um timing afiado para o riso e uma gama de recursos. Seja num olhar enviesado ou num surto histérico, sua solteirona convicta é naturalmente irônica e engraçada.
A direção equilibrada e o roteiro esperto de Laurent Tirard —responsável por produções como “O Pequeno Nicolau” (2009) e “As Aventuras de Molière” (2007)— conduzem o filme em um ritmo ágil e gradativo. O tom jocoso começa suave e vai aumentando até se assumir pastelão por completo. À certa altura, parece que o cinema virou teatro.
Elenco coadjuvante, cenários e figurinos também ajudam a compor a atmosfera leve e dinâmica de “O Retorno do Herói”. Uma comédia saborosa que, embora vestida com roupas dos anos 1800, se conecta com temas e questões que são muito a cara do século 21.