Maduro e a conspiração
Destituição à força apenas agravaria o caos institucional fomentado pelo chavismo
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Não há nenhum outro responsável pelo colapso social e econômico vivido pelos venezuelanos que não seja o desastroso regime chavista, ora sob o comando de Nicolás Maduro. Há poucas semanas, em surpreendente tom autocrítico, ele assumiu a culpa pelo fracasso do modelo produtivo nacional.
No mesmo pronunciamento, afirmou que era preciso parar de “choramingar” sobre uma alegada ação desestabilizadora encabeçada pelos EUA. O ditador, entretanto, tem recebido a munição de que precisa para dar sobrevida a esse discurso e, assim, desviar o foco de sua inépcia administrativa.
Mostrou-se previsivelmente benéfica a Maduro a recente reportagem do jornal The New York Times, baseada em relatos sob anonimato, acerca de reuniões secretas mantidas em 2017 e 2018 entre funcionários do governo americano e militares da Venezuela dispostos a depor o mandatário.
Segundo o periódico, em nenhuma das três ocasiões os representantes da Casa Branca se comprometeram a prover ajuda material ou mesmo a avalizar os planos de seus interlocutores. O diálogo, ao que tudo indica, não prosperou.
No ofício da diplomacia, é praxe manter abertos os canais de comunicação com todos os segmentos de poder, inclusive aqueles que se opõem a um governo autoritário.
Seria ingênuo, porém, crer que tais encontros, se de fato ocorridos nessas circunstâncias, não acabassem vistos com desconfiança. Afinal, em agosto do ano passado, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse não descartar uma “opção militar” como solução para a crise venezuelana.
Não se observou, até agora, nenhum efeito prático a partir da desastrada declaração. Pode-se inclusive supor que assessores cientes do nível de inadequação dessa medida tenham conseguido demover Trump de torná-la concreta. Falta, contudo, uma posição assertiva da Casa Branca de rechaço a tal ideia.
Afinal, basta a mais frágil suspeita de que autoridades americanas estejam em conluio com conspiradores para Maduro denunciar uma fantasmagórica campanha destinada a tirá-lo do poder.
A manutenção do regime decerto prolonga a agonia da população, o que se comprova pelo êxodo rumo aos países vizinhos, entre eles o Brasil. A destituição à força, porém, apenas agravaria o caos institucional fomentado pelo chavismo.
Ainda que dispendiosa, a via diplomática mantém-se como único meio para impelir a ditadura à inescapável conclusão de que a Venezuela só sairá da ruína sob uma nova ordem democrática.