Em depoimento de delação premiada, o ex-diretor de Relações Institucionais da empreiteira Odebrecht, Cláudio Melo Filho, disse que o senador Romero Jucá (MDB-RR) era um dos principais dos principais interlocutores dele no Senado.

O executivo explicou que Jucá era assim considerado em razão da "intensidade da sua devoção aos pleitos" de interesse do grupo empresarial e do "elevado valor dos pagamentos financeiros que foram feitos ao senador ao longo dos anos".

São situações como a descrita pelo delator da construtora que levam a uma visão majoritariamente negativa sobre a atividade do lobby.

No livro "Lobby Desvendado: Democracia, Políticas Públicas e Corrupção no Brasil Contemporâneo" (Editora Record, 392 páginas), a ideia preponderante é a de que essa forma de relação entre os setores público e privado pode ser saudável para ambos os lados, se realizada de maneira transparente e profissional.

Quase metade da obra é dedicada a um manual sobre a atividade, também denominada relações institucionais, que, segundo o executivo e coautor Milton Seligman, resultou em parte das aulas que ele ministrou no Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa).

O livro, que tem como organizadores Seligman, ex-ministro da Justiça (governo FHC), e o jornalista Fernando Mello, é dividido em duas partes bem distintas.

A primeira traz uma coletânea com sete artigos assinados por Paulo Sotero, Anna Prusa, Nelson Jobim, Luciano Inácio de Souza, Sérgio Lazzarini, Aldo Musacchio, Matthew Taylor, João Pinho de Mello, Fernando Mello, Carlos Melo, Alana Rizzo e Joel Velasco.

Os dois primeiros textos trazem os conceitos relacionados ao lobby e a obrigatória comparação com a atividade desempenhada nos Estados Unidos, onde há forte regulamentação sobre o tema.

Os outros cinco artigos dessa parte da obra discutem as características do sistema político brasileiro, e aí, inevitavelmente, surgem temas como a corrupção e a Operação Lava Jato.

Um deles, elaborado por Rizzo e Velasco, traz a pergunta-chave para o futuro do setor privado no período pós-Lava Jato: "as empresas conseguem migrar do crony capitalism (capitalismo de laços) para práticas íntegras de interação com o governo?".

A reposta dos autores é a de que ter programas de conformidade (compliance, na língua inglesa) não basta, e as companhias necessitam estabelecer metas, entre elas "a criação de um ambiente de negócios mais saudável, com mais competição, consumidores bem informados e um espaço de trabalho mais justo e equilibrado".

MANUAL

A segunda parte traz o manual sobre o trabalho em relações institucionais, escrita por Seligman e pelo consultor de empresas Mateus Affonso Bandeira.

Em seis capítulos, os autores apresentam conceitos gerais sobre a atividade, estratégias e fórmulas práticas para avaliação de desempenho.

O grau de detalhamento sobre as rotinas do trabalho alcança o relacionamento com os meios de comunicação, e até mesmo um método para estimar o "valor da notícia" é apresentado na obra. 

Lobby Desvendado - Democracia, Políticas Públicas e Corrupção no Brasil Contemporâneo
Autores: Milton Seligman e Fernando Mello (organizadores)
Quanto: R$ 54,90 (392 págs.)
Editora Record
Lançamento: 20/03, às 19h, no Insper (R. Quatá, 300, Vila Olímpia, São Paulo)