Descrição de chapéu Eleições 2018

Alckmin investe no voto das mulheres e adere ao vocabulário das feministas

Tucano fala em 'empoderamento' e promete ampliar ensino infantil para beneficiar 'mamães'

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Thais Bilenky
Pelotas, Caxias do Sul e Porto Alegre

Até ao vocabulário feminista ele aderiu. "Vamos empoderar as mulheres", repete. "Elas são melhores do que nós, homens."

Para passar ao segundo turno, o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) investe no eleitorado feminino, justamente aquele que nutre alta rejeição por seu principal oponente, Jair Bolsonaro (PSL).

Conta para isso com uma vice gaúcha de estilo aguerrido, que o interrompe sem constrangimentos quando quer opinar ou complementar uma declaração. 

Ana Amélia Lemos (PP-RS) é "a mais respeitada e querida aliada, uma senadora brilhante", elogia o tucano.

Com desempenho tímido nas pesquisas de intenção de voto, o candidato intensificou o aceno às mulheres. 

Elas correspondem a 52% do eleitorado, estão em parte (25%) indecisas e em boa medida (43%) determinadas a não votar em Bolsonaro, segundo o Datafolha. 


 

Alckmin e Marina Silva (Rede) são rejeitados por 23% das mulheres, mas a candidata tem a maior intenção de voto (19%) em cenário sem Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O ex-presidente tem 39% do eleitorado feminino. 

Com ele na disputa, Alckmin fica com 7% dos votos femininos. Sem Lula, fica com 9%. Espontaneamente, 1% das mulheres elegem o tucano.

Em um giro pelo Rio Grande do Sul no início desta semana, ao lado da esposa, Maria Lúcia, e de Ana Amélia, Alckmin permeou seus discursos de gestos às mulheres.

Ana Amélia, Alckmin e sua mulher, Lu, em campanha em Fortaleza - Ciete Silvério -31.ago.2018/Divulgação

Em Pelotas, sua primeira parada, na segunda-feira (27), o candidato visitou um centro de atendimento a autistas.

Em uma sala lotada pela entourage (cinegrafistas, assessores, aliados), uma mãe foi convidada a relatar sua história. "Estou tão nervosa, não sou a pessoa certa", desabafou. Ana Amélia foi rápida na reação.

"Todas as mães são as pessoas certas."

A mulher chorou ao observar que nem sempre, porém, elas têm acesso a atendimento desde a infância dos filhos diagnosticados. Ana Amélia, mais uma vez, reagiu logo e puxou aplausos.

Silente, Alckmin esperou o depoimento acabar para dar um abraço que, em voz alta, disse ser carinhoso. Sua esposa não se manifestou.

No mesmo dia, já em Porto Alegre, abordou um assunto caro ao eleitorado feminino. 

"Deveríamos ter universalizado a pré-escola, mas ainda faltam 440 mil crianças de quatro e cinco anos de idade", disse em evento promovido por uma revista local.

"A primeira meta é nenhuma criança fora da pré-escola. A outra é aumentar a creche [para criança] de zero a três anos e universalizar para as famílias mais vulneráveis, que precisam mais", prometeu. 

Voltou à carga no dia seguinte de manhã, em Caxias do Sul.

"Investir no ensino infantil é o melhor investimento que a gente pode fazer para a mamãe, para o papai, para a família, para poder a mulher trabalhar e cuidar dos pequeninos", declarou a empresários.

Falando na ocasião sobre segurança pública, defendendo o encarceramento como medida para diminuir a criminalidade, Alckmin novamente acenou às eleitoras.

"São Paulo tem 230 mil presos, 96% homens. Mulheres [são] 4% e esses 4% ainda é a má companhia dos homens", afirmou. "Nossa homenagem às mulheres."

As menções, presentes em todos os seus discursos, têm também tiradas de humor.

Por exemplo, quando falava na Santa Casa de Porto Alegre, atentou para a expectativa de vida do brasileiro, hoje de 75 anos. "Acho que já estamos chegando a 77. Com os avanços da ciência, vamos chegar a cem anos e as mulheres não morrerão mais", divertiu-se.

Ana Amélia também menciona o assunto publicamente. Minimizando o ato falho de Alckmin, que, dias antes, chamou-a de Kátia Abreu (PDT-TO), vice de Ciro Gomes (PDT), a ex-jornalista criticou o noticiário político. 

"As pessoas trabalham com intriguinha, e não vão a fundo no problema das mulheres, da violência contra a mulher", discursou, em Porto Alegre. 

"Trezentas mil adolescentes são violentadas por ano no Brasil e ninguém fala disso. No governo de Alckmin, terão mais mulheres para decidir e ajudar a melhorar o Brasil."

Em relação às bandeiras feministas clássicas, no entanto, Ana Amélia não é tão incisiva assim. A ativista Manoela Miklos vê na escolha da vice de Alckmin "uma tentativa de dialogar com o voto feminino, mas não feminista".

Colunista da Folha, Miklos considera evasivas suas posições sobre o aborto (favorável à lei vigente) e a lei do feminicídio (cobra uma mudança de comportamento social).

"Ela não considera adequadamente o quanto o feminismo avançou e pauta debates para fora de sua bolha original. Por isso, acho uma tentativa desengonçada de se aproximar desse eleitorado do ponto de vista pragmático e equivocada do ponto de vista da defesa dos direitos das mulheres", conclui a ativista.

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