Setor de turismo é carente de profissionais qualificados

Copa e Olimpíada não deixaram mão de obra treinada para hotéis e restaurantes

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Júlia Zaremba
São Paulo

A Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 serviram como impulso para a especialização de funcionários de restaurantes, hotéis e outras áreas ligadas ao turismo. Mas cursos e ações lançados na época, e depois, não foram suficientes, segundo o setor.

“Faltam funcionários bem capacitados”, diz Magda Nassar, presidente da Braztoa (associação das operadoras de turismo). “Precisamos de grandes iniciativas, em larga escala, para deslanchar.”
Uma solução que ela aponta é a criação de plataformas de cursos a distância para grande número de pessoas.

O Ministério do Turismo ainda dá cursos que surgiram no contexto dos grandes eventos. O Pronatec Turismo, em parceria com o Ministério da Educação, tem programas presenciais e a distância nas áreas de turismo, hospitalidade e lazer, mas não há nenhum em andamento agora. A previsão é de novas turmas no segundo semestre.

A ação mais recente da pasta para qualificar jovens e profissionais do setor foi o pacote de medidas Brasil Mais Turismo. A plataforma Brasil Braços Abertos, que também oferece aulas a distância, é uma das iniciativas. Mas, segundo o ministério, também não há cursos em andamento no momento e não há previsão a respeito.

Aula de francês no Club Med Lake Paradise, em Mogi das Cruzes, em SP - Rafael Hupsel/Folhapress

Os cursos online, contudo, esbarram em um problema: a falta de conhecimento digital por parte de alguns alunos, segundo Elzário Júnior, presidente da Abbtur (associação de profissionais do turismo). Para ele, deveria haver maior oferta de cursos presenciais e gratuitos.

“Não basta um lugar ter bons centros de convenções. O profissional bem treinado é fundamental para a imagem do destino”, diz Júnior. 

Paulo Solmucci, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, concorda que esforços realizados até então não tiveram sucesso. “Às vezes, ouvimos alguém arranhando um outro idioma, mas, no geral, é difícil encontrar quem fale outra língua.” 

Presidente da Embratur, Vinícius Lummertz diz acreditar que as deficiências linguísticas são compensadas com simpatia. Para ele, quanto mais estrangeiros vierem ao Brasil, mais surgirão soluções para aprimorar os serviços. “É um círculo virtuoso a ser estabelecido.”

Dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostram que boa parte dos funcionários envolvidos em atividades turísticas tem formação deficiente.

Na categoria alojamento, que inclui hotéis e outros locais de hospedagem, cerca de 25% dos profissionais não passaram do nono ano do ensino fundamental. Os que concluíram a faculdade representam 6% do total. 

No setor de alimentação, apenas 1,8% concluíram o ensino superior, enquanto quase 24% só estudaram até a última etapa do fundamental.

Empregar uma mão de obra mais especializada nas atividades do setor é uma das soluções apontadas por Solmucci para aprimorar os serviços de bares e restaurantes. 

Com a reforma trabalhista e a implantação do trabalho intermitente, ele diz que será possível seguir o exemplo de outros países, como os EUA, e contratar estudantes que dominam outro idioma para ocupar esses postos. 

IMERSÃO

Não basta saber se comunicar em outro idioma.  Também é importante entender os costumes dos forasteiros.

A Faap (Fundação Armando Álvares Penteado) oferece workshops para quem quer conhecer mais sobre outras culturas e melhorar a comunicação com estrangeiros. O curso sobre a China, um dos carros-chefe, ensina a evitar gafes com os chineses.

“O chinês é mais indireto no discurso e não costuma resolver situações no curto prazo, por exemplo”, explica Lourdes Zilberberg, diretora de internacionalização da universidade, que também dá cursos sob demanda sobre países árabes, nórdicos e anglo-saxões. Com duração de seis ou 14 horas, são lecionados para grupos de cerca de 15 pessoas e custam cerca de R$ 400 por aluno.

Os resorts são “ilhas de prosperidade” no que diz respeito ao domínio de idiomas pelos funcionários, diz Ricardo Domingues, diretor da ABR (Associação Brasileira de Resorts). “Somos a vanguarda da hotelaria.” 
Para ingressar na entidade, o resort deve ter sinalizações em ao menos três idiomas, além de funcionários que dominem línguas e tenham ligação com a localização do hotel. A capacitação das equipes é constante. 

O Club Med Lake Paradise, inaugurado no início de 2017 em Mogi das Cruzes, oferece curso presencial de francês aos funcionários, com duração de três meses. Há aulas também nas outras unidades brasileiras da rede. 

“A prioridade é para quem atua no front, como recepcionista, recreador e bartender”, diz Trícia Junqueira, gerente de recrutamento e seleção do Club Med. 

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