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Com 120 atletas no país, pentatlo moderno vive 15 min de fama na abertura

O pentatlo moderno brasileiro dará uma volta olímpica em sua própria história na noite desta sexta-feira (5), no Maracanã, na abertura da Rio-2016.

Pelas mãos de Yane Marques, 32, medalhista de bronze nos Jogos de Londres-2012, um esporte que praticamente inexiste no Brasil terá seus 15 minutos de fama.

A pernambucana foi eleita, por votação popular, a porta-bandeira da delegação brasileira. A euforia contrasta com a situação de abandono que vive no Brasil.

De acordo o presidente da CBPM (Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno), Helio Meirelles, o país tem apenas cerca de 120 atletas registrados competindo regularmente.

A entidade, por exemplo, não tem patrocinadores e sobrevive de verba oriunda da Lei Piva (neste ano, tem previsão de receber R$ 2,6 milhões) e de convênios com o governo federal. Assim sendo, não poderia dar outra: tem apenas quatro funcionários contratados, com salários que variam entre R$ 1.700 e R$ 4.400.

"É um esporte complicado e oneroso. Se eu tivesse um patrocinador, eu faria um contrato, e poderia flexibilizar o dinheiro", afirmou Meirelles, que apontou os custos de aquisição de espadas, armas, munição e cavalos como maiores entraves.

O esporte compreende cinco modalidades: esgrima, equitação, natação, corrida e tiro. A combinação da pontuação obtida nas provas define as medalhas. O pentatlo foi criado pelo barão Pierre de Coubertin, idealizador dos Jogos Olímpicos modernos, e está no programa do evento desde Estocolmo-1912.

Que esporte é esse? - Olimpíada - Folha de S.Paulo

No Brasil, essa tradição toda não fez a diferença. Segundo o dirigente, não há interessados diretos no pentatlo. A solução é recrutar atletas bons, mas não excepcionais, em outros esportes. Foi exatamente o caso de Yane, que era nadadora. Competidores oriundos do triatlo também são vistos como potenciais pentatletas, por serem versáteis.

A CBPM usa duas estruturas no Nordeste como centro de treinamento, mas vive um paradoxo. Meirelles afirmou que é reticente em tentar lançar um programa de disseminação do esporte, basicamente porque não teria como manter o projeto. Falta dinheiro.

"Não consigo fazer um trabalho de ampla divulgação do pentatlo. Se eu faço, não tenho dinheiro para dar sequência", contou. "Não temos como sustentar. Se eu enveredar por um caminho de alta complexidade, vou morrer."

A entidade chegou a ter um centro de treinamento com cerca de cem atletas em Deodoro, na zona oeste do Rio, mantido por meio de uma parceria. Dois anos depois, a verba acabou e o projeto minguou. Os atletas que estavam sendo desenvolvidos se perderam.

A situação é crítica a ponto de a CBPM não ter qualquer ingerência sobre o cotidiano de sua principal atleta. Todo o planejamento e custeio da programação de Yane é bancado pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil). Neste ciclo, a pentatleta já faturou duas medalhas em Mundiais.

"A Yane foi um diamante encontrado que nós lapidamos. Mas não tenho condição de bancar, ela levaria 2/3 da minha verba anual, pelo nível em que está hoje", afirmou Meirelles. "Não interfiro em nada na Yane. Deixo ela com o COB. Não pergunto, não ligo, não sei por onde ela anda."

A Folha tentou entrar em contato com a porta-bandeira para a reportagem, mas ela não respondeu aos contatos. Segundo o presidente, ela tem sido blindada pelo técnico, Alexandre França.

Enquanto anda na direção contrária de potências como Rússia e Hungria, o pentatlo moderno brasileiro terá um raro momento no holofote nesta sexta.

Chamada Medalhas

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