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Ofensas racistas quase encerraram carreira de medalhista de ouro do Brasil

Medalhista de ouro na Rio-2016, a judoca carioca Rafaela Silva quase desistiu do judô por conta de ofensas racistas sofridas logo após sua eliminação na primeira luta da Olimpíada de Londres-2012

Nesta segunda-feira (8), ela venceu as cinco lutas que disputou pela categoria até 57 kg. Na decisão, a carioca derrotou a mongol Sumiya Dorjsuren, número um do mundo. Rafaela aplicou um waza-ari pouco depois de um minuto de luta. A marcação do golpe exigiu a consulta ao vídeo por parte dos árbitros, que confirmaram a vitória da judoca brasileira.

No decorrer da luta, a brasileira conseguiu se livrar de um golpe perigoso da mongol. Aos poucos, ela conseguiu fugir das tentativas de ataque da adversária.

Na caminhada rumo ao ouro, a carioca estreou com uma vitória sobre a alemã Miryam Roper com 45 segundos. Nas oitavas, ela se impôs diante sul-coreana Jandi Kim. Nas quartas de final, a judoca aplicou um waza-ri para vencer a húngara Hedvig Karakas. Já na semifinal, a atleta precisou do golden score para derrotar a romena Corina Caprioriu.

Em Londres, após perder para a húngara Hedvig Karakas na primeira luta da competição, Rafaela buscou apoio na torcida pela internet. Encontrou ofensas raciais.

"Parece que é besteira para os outros, mas ela quase parou. Fez o maior esforço para representar o país. Quando vai entrar na internet para ver se tem algum apoio, só vê gente chamando de macaca. Ficou desanimada", disse o pai da judoca, Luiz Carlos do Rosário Silva, 50.

Ela respondeu, discutiu com torcedores, e acabou sendo advertida pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil), que também criticou as ofensas raciais.

A CBJ (Confederação Brasileira de Judô) teve de fazer uma espécie de operação, com apoio de Bernardes e psicólogos, para recuperar a atleta.

O reerguimento não poderia ter sido melhor. Ela se tornou a primeira brasileira campeã mundial, no Rio, em 2013.

Após a conquista, ela teve um ciclo olímpico instável. Ficou em 5º lugar no Mundial seguinte e não participou dos demais.

CIDADE DE DEUS

Criada na Cidade de Deus, a oito quilômetros do atual Parque Olímpico da Barra, Rafaela era conhecida na favela como uma menina brigona.

Aos cinco anos, sua mãe, Zenilda Lopes da Silva, 45, decidiu colocar a menina para lutar judô. Ela foi descoberta pelo treinador Geraldo Bernardes, ex-técnico da seleção brasileira.

Quando começou no esporte, a família já havia parado de pular de casa em casa. Juntou recursos para comprar um barraco na comunidade. Mas teve de dormir sobre jornal para ajeitar o local.

"A casa não era uma casa. Vazava água da laje toda. A laje toda quase caindo. A gente não podia sair da casa porque ainda estava pagando. Ou a gente consertava a casa, ou a gente morava nela. Como compramos ela com dificuldade, dormíamos no jornal [até consertar os problemas]. Era como se morássemos na rua. A gente se cobria com o que tivesse", disse a mãe da judoca.

No início, as competições do judô eram uma diversão para Rafaela. As lutas de quatro minutos eram intervalos para as brincadeiras com os colegas do esporte.

Ela passou a se interessar pela profissionalização após ver a irmã, Raquel Silva, 27, também judoca, subir na carreira.

"No começo não levava a sério. Mas quando a irmã começou a se destacar e viajar, ela ficava chorando dizendo que queria viajar. Agora ela viaja mais do que a irmã", disse a mãe.

Aos poucos, a brincadeira passou a ser profissão. Em 2008, ela foi campeã mundial júnior em Bangkok (Tailândia). As vitórias a transformaram numa chefe de família: passou a bancar a reforma da casa dos pais e ajudar a irmã.

A família saiu da Cidade de Deus —onde ainda moram os tios— e mora agora no Anil, bairro de classe média baixa da zona oeste do Rio. No último ano, comprou uma kombi para o pai fazer frete e transporte de passageiros. Deu um carro para mãe e para a irmã. Mora no Méier (zona norte), onde busca se concentrar na profissão.

O próximo projeto, a ser financiado com o prêmio da medalha de ouro de Rafaela, é terminar o acabamento do terraço da casa, que ainda tem ferragens expostas.

"Ela é como se fosse um pai para mim. Ela me dá coisas que meu marido não tem condições de dar", disse a mãe.

Brasileiros classificados para a Olimpíada

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