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22/06/2007
Carta da semana


Desiludido com a Educação


“Quem lhe escreve é um adolescente revoltado e desiludido. Quem lhe escreve é um representante de uma geração cética, defraudada dos seus idealismos de juventude e descrente da democracia. Se o Brasil é o país do futuro, o nosso futuro nos está sendo roubado.

Há cerca de um ano e meio, sou estudante de uma ETE. Mais precisamente, da maior delas, a ETESP. Além dos famosos cursos técnicos (em função dos quais as escolas técnicas foram criadas), as denominadas ETEs têm demonstrado resultados felizmente pouco convencionais às escolas representantes do precário sistema de ensino público brasileiro. A ETESP, em que estudo, obteve o melhor desempenho das escolas públicas de São Paulo no ENEM de 2006, e o 8ª melhor entre todas as escolas de tal município, ficando (bem) à frente de escolas tradicionais e inacessíveis à maioria das pessoas, como por exemplo, o Dante Alighieri. Eu ousaria dizer que isso não é pouca coisa.

Não me restringirei apenas à escola em que estudo: segundo a classificação do Enem, na cidade de São Paulo, entre as escolas públicas estaduais, as onze primeiras colocadas são ETEs (isso sem falar dos colégios técnicos interioranos). Os mesmos altos desempenhos têm havido por parte de todas as ETEs ao longo de anos, e são um evento raro dentro da hedionda rede pública de ensino do nosso Brasil varonil. Além do ENEM, cumpre dizer que as escolas técnicas têm um índice de aprovação em faculdades públicas bastante alto, o que lhes corrobora a qualidade de ensino e torna a concorrência pelas vagas, em tais estabelecimentos de ensino, razoavelmente renhida.

Este ano, como todos sabem, passou-se a faca na verba pública destinada à educação. Um dos prédios de nossa escola, em que teríamos aula, só teve a reforma completada por benevolência de quem prestava o serviço (literalmente), porque a grana que estava destinada para tal, foi para sei lá onde. Aliás, o prédio tal estava em condições deploráveis antes da reforma. Enfim, o ponto não é este. Qual é o ponto? Privatização.

Quer-se privatizar as ETEs. E, miseravelmente, isto não é um boato inventado pela esquerda para prejudicar o PSDB na campanha presidencial de 2010. Há uma pretensão firme de se fazer tal coisa por parte do atual governo de São Paulo. A começar, as ETEs não fazem mais parte do ministério de educação - e, sim, do ministério de desenvolvimento (!). A idéia implantada seria a das PPP's - Parcerias Público-Privadas -, em que as escolas técnicas se abririam a investimento da iniciativa privada. É a mesma idéia que se tem dito querer aplicar a longo prazo nas faculdades públicas.

O que se está propondo aqui é acabar com o resto de educação pública decente que este país fornece, que a população sustenta por meio de impostos e que tem direito. É não honrar uma tradição de escolas que por meio de muito esforço se mantiveram no topo, a despeito do governo omisso e da verba escassa. É violentar um monte de jovens que crêem em uma perspectiva de mudança da nação (e que, no futuro, deveriam liderá-la), lhes convencendo de que não existe justiça e que governo são interesses particulares. Isto é apenas um desabafo.”
Sérgio - sergio@conselhoadministrativo.com.br

CIDADÃO JORNALISTA é um espaço destinado aos leitores e ouvintes que ao relatarem fatos e experiências de sua cidade, comunidade e cotidiano, tornam-se repórteres por um momento.

 
 

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