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23/05/2008
Carta da semana


Escola de Inaplicação


"Concordo inteiramente com suas críticas à USP e sua escola de "inaplicação". Até porque não cultivo o hábito, tão caro a muitos defensores do modelo vigente de administração do ensino brasileiro, de brigar com os números.

Cursei pedagogia na USP (1988-1995). Por 9 anos (tranquei matrícula e retornei várias vezes) estive ligado à FEUSP e, sinceramente, não lembro de uma vez sequer em que as portas da Escola de "Aplicação" (que de aplicação não tem nada) tenham sido abertas para nós, alunos de graduação. Seja para fins de estágio, pesquisa, observação das aulas, intercâmbio com os professores.

Nunca conheci um professor sequer da escola nesses nove anos. Lembro de pelo menos um debate acalorado em que a "inaplicação" da escola de "aplicação" foi denunciada por uma colega. Pouco depois, me foi relatado que a então diretora da escola de aplicação teve um ataque histérico ao defender-se da crítica em um debate subseqüente, ao qual eu já não estava presente.

A denúncia da falta de transparência naquela instituição sempre esteve na ponta da minha língua e do meu teclado e na língua e teclado de alguns poucos colegas, nas inúmeras vezes em que nos pronunciamos nos debates internos e escrevemos no então jornalzinho da faculdade, o Espaço Aberto. Não lembro de um professor sequer ter-se juntado a nós. Na ocasião em que eu e meus colegas do Centro Acadêmico Paulo Freire elaboramos um questionário para avaliação dos professores da FEUSP pelos alunos (o que teria sido o primeiro na história da instituição, que eu saiba), fomos chamados para uma conversa com uma das integrantes da comissão de graduação.

Em "off" (assim ela pediu que ficasse nossa conversa, e me arrependo de ter concordado com o silêncio), ela manifestou sua discordância quanto aos nossos métodos (avaliação independente, manutenção de sigilo no tocante à identidade dos alunos e promessa de divulgação dos resultados à comunidade). Quando mencionei a palavra "cidadania" como fundadora do projeto, tive enfim a oportunidade de testemunhar um ataque histérico de 3º grau. Aos berros, ela gritou que "cidadania" era fazer passeata na rua, defender os direitos históricos do professorado, etc...

Infelizmente, acho que as coisas devem continuar como estão ainda por um longo tempo. Nossos professores e gestores tecnocratas estão muito preocupados com seus próprios cargos e salários pra captar os sinais de lucidez que vêm de fora da instituição (como não poderia deixar de ser, penso). Os Dimensteins, Gustavos Ioshpes e Cláudios Moura Castros são admirados por mim e um pequeno e seleto grupo de educadores ao qual eu me orgulho de fazer parte, mas infelizmente ignorados por lá."
Alexandre Mattos - erdnaxela@uol.com.br


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