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REFLEXÃO


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urbanidade
20/09/2006
Praça da comunidade

Bem em frente ao fórum de Pinheiros, acaba de surgir a primeira praça pública na cidade de São Paulo, onde todas as árvores são devidamente identificadas com seus nomes científico e popular, graças ao Departamento de Botânica da Universidade de São Paulo -a idéia é, a partir dali, espalhar esse aprendizado ecológico não somente pelas praças mas também nas ruas de toda a cidade.

Surge a 1ª praça pública, em São Paulo, onde as árvores são identificadas com seus nomes científico e popular

Tudo começou por causa da curiosidade de Rosely Brancaglione, formada em administração no Mackenzie, com especialização em marketing na ESPM. Ela preferiu jogar fora seus diplomas de ensino superior e aprender as artes de uma profissão em extinção -tornou-se sapateira. "Logo descobri que não tinha professor nem curso. Acabei descobrindo um sapateiro que me serviu de mestre", diz. Acabou, no final, abrindo a sua própria sapataria artesanal.

Quase diariamente ela caminha pela praça Raphael Spienza, em frente ao fórum de Pinheiros -a praça foi, na década de 1980, criada na marra, pela comunidade. Tanto que se chamava informalmente "praça da Comunidade" até ganhar o nome do político, o que ainda gera revolta entre antigos moradores, entre os quais o jornalista Mauro Chaves, que lidera o movimento que busca devolver àquela área o seu nome original.

Numa dessas caminhadas, Rosely deu-se conta de que não conhecia o nome de nenhuma daquelas árvores, quase todas, num espírito comunitário, plantadas por particulares. "Eu me senti ignorante. E achei que podia transformar minha ignorância em aprendizado." Ela foi ao Departamento de Botânica da USP e conseguiu a ajuda voluntária do professor José Rubens Piran, que se dedicou a identificar cada um dos espécimes, alguns deles frutíferos. Trataram, então, de afixar os nomes científico e popular das árvores em cada uma delas, imitando um jardim botânico. "Adorei a sensação de ficar andando entre aqueles seres, agora conhecidos. Não podia imaginar que, num espaço tão pequeno, havia tamanha diversidade."

No Dia da Árvore, a ser comemorado amanhã na praça, Rosely Brancaglione se propõe a ir mais longe: arregimentar um exército de crianças e adolescentes para, junto com estudiosos em botânica, aprender sobre as árvores da cidade, identificando-as com seu nome popular e científico.

Enquanto esse "exército" não chega, ela encontrou dois meios de compartilhar suas conquistas e buscar aliados. Fotografou as árvores e as colocou num site (www.vilamada.com.br). Além disso, está percorrendo escolas públicas e privadas do bairro de Pinheiros para que os alunos possam fazer ali visitas monitoradas, aprendendo sobre botânica.

Quem sabe, imagina Rosely, se, sensibilizados, eles não se sentiriam dispostos a reproduzir a experiência pelas ruas e ajudar a fazer de São Paulo um imenso jardim botânico. "Isso faria com que preservássemos mais nossa já escassa natureza."

Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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