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100% natural
08/11/2004

Estilista reúne responsabilidade social, moda e ecologia

Apaixonado por natureza e moda, o estilista Caio Von Vogt é o criador do tecido 100% ecológico, uma inovação na indústria mundial da moda. Paranaense da cidade Planalto, filho de alemães, e acompanhando a profissão da mãe costureira, Von Vogt aos cinco anos já desenhava modelos de roupas e, quando adolescente, ganhava prêmios em concursos de Artes Plásticas.

Aos 17 anos veio para São Paulo e fez vários contatos com pessoas ligadas à moda. Na época, dos poucos cursos nessa área, a maioria era voltado para o público feminino e não havia curso superior de moda.

Depois de seis anos pesquisando tendências, tecidos e padronagens, Von Vogt descobriu a fibra de juta, em 1998. A fibra vegetal retirada da planta cultivada na região do Amazônia, também chamada por fibra liberiana. "Sempre fui de buscar novidades em todos os setores, tanto de acessórios quanto do próprio tecido. Fui muito de fuçar e fugir do padrão. Isso é uma característica minha", afirma o estilista.

Devido a suas pesquisas, o estilista conheceu a Companhia Têxtil Castanhal, uma indústria responsável pela colheita e plantação da juta na cidade de Castanhal (PA). E ofereceu uma proposta mais que ousada, pois a Têxtil produz fios, telas e sacos de jutas. Não tinha nenhum trabalho voltado para moda e Vogt queria a confecção de tecido da fibra da juta. "Foi muito difícil levar este tipo de proposta para uma empresa que nunca trabalhou com moda. O senhor Oscar, proprietário da Têxtil, ficou impressionado com a ousadia em se fazer moda com aquela fibra. Assim começou uma parceria entre a Castanhal e eu", afirma o estilista.

O tecido ecovogt pode ser utilizado em qualquer tipo de roupa ou acessório, na confecção de camisetas, vestidos, calças, bolsas, cintos ou calçados. Ao contrário de outros produtos do mercado, o ecovogt em contato com a natureza se decompõe em dois anos, enquanto o algodão demora 10 anos e o poliéster um século.

Com a ajuda de uma equipe de 22 profissionais entre engenheiros têxteis, alunos e estagiários, o estilista pesquisou amaciantes e fixadores naturais e uma cartela de dez cores naturais extraídas de plantas como urucum, marcela, anileira, folha de mamona, açafrão, pau-brasil e outras. Os fixadores e amaciantes também são extraídos de plantas nativas brasileiras. "As pessoas nem imaginam que desses produtos saem amaciantes e fixadores naturais. O açaí, por exemplo, é nosso fixador de tinta no tecido", afirma Von Vogt.

O projeto recebeu apoio da Companhia Têxtil de Castanhal, Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio ás Micro e Pequenas Empresas), Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), Abravest (Associação Brasileira do Vestuário), Unifei (Faculdade de Engenharia Têxtil), Ministério do Meio Ambiente e Consulado Geral da Holanda, em São Paulo.

Além do aspecto ambiental, o ecovogt trabalha com a população ribeirinha no Amazonas, pois cerca de mil famílias trabalham exclusivamente no cultivo da planta. Há uma cultura envolvida já que a plantação costuma ser passado de pai para filho. A planta também apresenta certas peculiaridades como o não uso de germicidas e é biodegradável.

De acordo com o estilista, especialistas consideraram o tecido ecovogt 50 anos à frente da indústria têxtil mundial, pois tanto sua matéria-prima quanto sua produção não provocam riscos ao meio ambiente. Vogt conta que 50% da produção vai para o mercado europeu, que segundo ele demonstra maior consciência em relação a questões ambientais. O estilista informa também que o metro do tecido varia de R$ 12 a R$ 18, porque quanto mais grosso mais barato.

Como a comercialização envolve exportação, franquias e royalties, houve a necessidade de se criar uma empresa voltada exclusivamente para este projeto natural, pois o produto já recebe propostas de multinacionais no ramo de calçado, bolsas e outros produtos. A empresa ecovogt é instalada na Iesbec (Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de São Bernardo do Campo), que faz a comercialização do produto no Brasil e no exterior.

A pesquisa do tecido Ecovogt está no princípio e promete ser uma alternativa ecológica no mundo da moda. "Digamos que subimos um degrau numa escadaria. Nós não entramos ainda no aperfeiçoamento do fio. Nós não entramos nas misturas com lycra, poliéster, algodão. Ele tem um futuro infinito", avalia Von Vogt.

Além do projeto Ecovogt, o estilista é proprietário da marca Von Vogt Brasil, que produz jeans; colaborador do programa Note e Anote, da TV Record; e faz parte do membro do conselho da ONG Florescer, uma organização sem fins lucrativos que atua na favela do Paraisópolis, zona sul de São Paulo. A entidade atende mais de 2500 crianças, que recebem aulas de moda (customização, um trabalho de modificação a peça de roupa), reforço escolar e encaminhamento para o mercado de trabalho. "Ali nós temos um projeto muito bonito com crianças, que são encaminhadas para o primeiro emprego por meio da Prefeitura de São Paulo. A ONG tem mais de vinte anos e tenho muito orgulho de fazer parte do conselho", declara Von Vogt.

Ecologicamente correta
A jornalista de Moda e professora do Senac São Paulo, Danielle Ferraz, defende a causa ambiental e social por meio da moda. O que era um artigo "Chique é ser consciente" se transformou num projeto piloto de marca desenvolvido por Danielle, estudantes de moda da Universidade Estadual de Santa Catarina e a Fundação Getúlio Vargas, que auxiliam na estrutura do projeto para captação de recursos e patrocinadores. "O artigo teve uma grande dimensão. Eles estavam querendo fazer uma campanha, mas isso tem uma data de validade muito curta. Isso acabou transformando numa marca de roupa e acessórios", afirma Danielle.

A marca "Chique é ser consciente" usa tecidos reutilizados, adquiridos por meio de doação de roupas, trabalhando a questão da solidariedade em moda. A idéia é trabalhar com mão-de-obra de cooperativas para interagir com toda sociedade, principalmente a população mais carente, e comercializar por um preço acessível para competir no mercado.

O posicionamento de Danielle chamou a atenção da Sociedade Vegetariana Brasileira que a convidou para organizar um desfile diferente, engajado na moda ecologicamente correta. O desfile" Veg-Fashion Moda Sem Crueldade" acontecerá no 36º Congresso Vegetariano Mundial, entre os dias oito 12 e 13 de novembro de 2004, que contará com seis estilistas e criações de estudantes de Moda. Entre eles, estará a marca Treetap, que utiliza couro vegetal, elaborado a base de látex natural, das seringueiras nativas na floresta Amazônica; e a designer Suzana Rodrigues, de Brasília (DF), responsável por bijuterias e acessórios de sementes e confeccionados por presidiárias.

De acordo com Danielle, são poucos os estilistas que trabalham neste viés e as pessoas ainda têm medo de usar este tipo de roupa. "Muitas acham que estão usando fantasias", diz Danielle. A saída é tentar mudar a mentalidade da população para emplacar as novidades na área da moda. Afinal, o chique é ser consciente.

SUSANA SARMIENTO
do site Setor3

 
 
 

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