454 anos de São Paulo
25/01/2008

Jovem dedica poesia aos personagens de São Paulo


Pelo terceiro ano consecutivo, Átila Almada vai abrir as comemorações do aniversário da cidade na Casa das Rosas


Heitor Augusto

Mais que os lugares que já se tornaram símbolos de São Paulo, a maior motivação da obra de Átila Almada, jovem poeta paulistano de 21 anos, são as pessoas e situações que compõem as várias facetas da cidade. O executivo que repousa o paletó aos pés da cama no fim do dia, os bêbados que filosofam pelas esquinas, as múltiplas cores das capas de CDs dos camelôs, o Zé das Couves que se desdobra em dez Zés para sobrevier, por exemplo, já foram alvo das poesias de Almada.

O caráter cosmopolita da cidade é visto por ele com um olhar particular, filtrando os excessos e se concentrando em quem constrói a paisagem da metrópole. “Gosto ou do muito esquisito, que destoa totalmente, ou do comum, pois posso tirá-lo do banal e descobrir outros detalhes”.

Desde criança, Almada encontrou na poesia um canal de expressão de sentimentos. A mãe sempre o incentivou. O primeiro concurso que ganhou, na época do colégio, teve apoio materno. A primeira publicação veio em 2000, aos 12 anos, em uma antologia da Fênix Editora. “Era um poema de criança. Mandei e eles gostaram. Hoje, sempre me chamam para escrever.”

Entre o curso de letras na Unicamp, concluído ano passado, o trabalho como professor, a poesia – que para ele é como essencial como a respiração –, Almada encontra tempo para tocar o projeto de pesquisa “A Alma do Trem”, sobre a Companhia Paulista de Estradas de Ferro (antiga Fepasa). Viajando pelas cidades do interior, colhe depoimentos de ex-trabalhadores, membros de sindicatos, moradores que tiveram alguma ligação com a companhia que teve papel fundamental para o desenvolvimento do ciclo cafeeiro do estado no século XIX.

“Por ser jovem, já ouvi que eu não teria capacidade de recontar essa história”. A resistência inicial que ele sofre se dissolve quando os moradores percebem o real interesse em ouvir os relatos. O objetivo final da pesquisa, iniciada em 2005, é publicar um livro de poesias, com notas explicativas e fotografias ilustrando os capítulos dessa história. “Só falta o financiamento para a publicação”, lamenta.

E qual é o lugar preferido de São Paulo? “Ela tem 2.700 mil metros e é onde mais colho personagens”, conta. A avenida Paulista, para Almada, é fonte constante para escrever. “Caminho vagarosamente por toda a sua extensão, conhecendo pessoas, conversando. Gosto de parar e observar”.

Pelo terceiro ano consecutivo, a trajetória do jovem poeta e São Paulo vai estar relacionada para além dos poemas. Ele vai abrir, na Casa das Rosas, as comemorações do aniversário da cidade. Este ano, o recital será “Água – entre o rio e mar” – nos anos anteriores foram “Sonhesia” e “Palavras Paulistanas”, dedicados exclusivamente à cidade.

Influenciado pelo concretismo de Haroldo de Campos e Augusto dos Anjos, Almada constrói sua poesia olhando para personagens que ilustram São Paulo, “a casa do banal genérico/do trânsito colérico”.

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